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segunda-feira, 4 de agosto de 2025

apa epa ipa opa upa

 Encontrei, certa vez, numa antologia, um soneto que o Padre Vieira fez ao seu irmão Bernardo. Era “em consoantes forçadas”, ou seja, com as rimas já determinadas. Na verdade, uma resposta a um soneto de Bernardo. Como pretexto ou mesmo resposta ao de Bernardo, também há um atribuído a Gregório – que foi seu amigo e depois inimigo, como costumava acontecer. Naquele tempo, meu parceiro abandonara a literatura contemporânea em que começáramos juntos, e passou a viver enfurnado nas leituras padrescas e teológicas. 

Resolvido a  orientá-lo em outra direção, enviei-lhe isto:

 

“Para Alcir Pécora, leitor de padres,

com o fito de o reconduzir ao bom caminho

 

Vieira disse:

 

Vê, Bernardo, da eternidade o mapa,

Deixa do velho Adão a geral cepa,

Pelo lenho da cruz ao Empíreo trepa,

Começando em Belém na pobre lapa.

 

Mais que rei pode ser, e mais que papa,

Quem de seu coração vícios decepa;

Que a grenha de Sansão toda é carepa,

E a guadanha da morte tudo rapa.

 

A dor da vida se é na cor tulipa,

De seus anos também se faz garlopa,

Que os corta, como o mar corta a chalupa.

 

Não há mister, que o ferro corte a tripa,

Se na parte vital o fato topa

Em apa, epa, ipa, opa e upa.

 


 

“Eu, seu amigo, lhe digo:

 

Se quiser ter um aprazível mapa,

Desse padre abandone a velha cepa,

Pois o mundo é melhor para quem trepa,

Quer viva nos Jardins, quer lá na Lapa.

 

É melhor ser mendigo que ser papa,

Pois, sendo boa, a fé o tesão decepa,

E nos pentelhos sobra só carepa,

Se numa xota o pinto não se rapa.

 

Eis o mapa: alguma úmida tulipa,

Um beiço ávido, que se faz garlopa,

E um pinto como um mastro de chalupa.

 

E vez por outra adentre pela tripa,

Pela boca e onde mais a pica topa

Em apa, epa, ipa, opa ou upa!”