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terça-feira, 6 de maio de 2025

Ainda não fui preso…


Um escritor negro comenta na minha postagem que viu o vídeo várias vezes e não descobriu racismo. Em seguida, diz que, se o rapaz denunciante sentiu que era racismo, ele se cala. Mas é de entendimento fino e pergunta a seguir se foi registrado B.O. Claro: um B. O. exigiria investigação e determinação objetiva. Uma pose de ofendido não precisa de comprovação. Por isso espero que ele o tenha feito e um processo seja instaurado.


Penso que esse é o problema: se o racismo for algo que depende da subjetividade, as manipulações se tornam mais fáceis e o direito de defesa desaparece, pois de nada valeria a escritora banida afirmar que “não sentiu” que estava sendo racista. 

O poder absoluto da subjetividade do ofendido é um absurdo: alguém poderia arguir, por exemplo, que sentiu racismo nas minhas postagens. A esses eu diria, como sugeriu o escritor: registre B.O. e veremos... 


Outra questão importante que o Marcos levanta no breve comentário é: parece que estamos criando “hierarquias de opressão”, dentro da qual uma mulher branca pode sofrer mais do que um homem negro e ser até banida. 

...


Esta deve ser a última postagem que faço sobre o assunto. Foi dolorido e cansativo voltar tantas vezes a esse tópico, mas foi bom ter propiciado espaço para pessoas que não cedem ao impulso da horda justiceira se expressarem. Até que valeu, então, ser xingado em público e em privado... Assim como valeu, quando defendi o direito de defesa de Silvio Almeida e apontei a fragilidade e provável má intenção da tal ONG que afinal não tinha colecionado as denúncias que disse possuir, ter sido ofendido “inbox”: por não ir no embalo eu seria um conivente com abusos e até um potencial estuprador. 


É o poder da horda. Antigamente um boato era suficiente para a caça e o massacre da bruxa da aldeia. Há pouco tempo, como no caso da Escola de Base, a horda seguia a imprensa escrita ou o boato de bairro, e assim satisfazia a sede de justiça no justiçamento. Agora a internet é um espaço e uma forma mais eficaz. Mas pelo menos é um espaço aberto, que permite a contestação e o chamado à razão, ainda que não resulte muito.


#flipoços #racismo

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Nunca fui preso... (Um caso abjeto)


1.


Leio sem surpresa que a organização da Flipoços excluiu uma escritora e a proibiu de vender seus livros por conta de uma suposta piada racista.
Sem surpresa porque vivemos o paroxismo woke há já alguns anos.
O motivo da exclusão foi um diálogo. A Excluída perguntou a um representante do Movimento Neomarginal (!?) se podia fazer parte dele. E fez a piada terrível: como faria parte do movimento se nunca tinha sido presa?
Foi o que bastou para que o rapaz, que era negro, assumisse a posição de vítima e proclamasse ter sido objeto de fala racista. Foi um começo de incêndio nas redes sociais. Provavelmente com medo da repercussão, a curadora do festival tomou a decisão draconiana.
O escândalo, quanto a mim, não está na piada – que eu mesmo faria, porque já foi feita há tempos, quando surgiu a poesia marginal, lá pelos anos 70. O nome supunha essa ambiguidade. Provavelmente antes do rapaz ofendido ter nascido. O escândalo, no caso da Flipoços, me parece mais uma jogada de marketing, com base no wokismo cada vez mais intolerante.
Porque, vamos lá, se a piada fosse feita perante uma pessoa branca do movimento nada disso teria acontecido. Ou o movimento Neomarginal exclui brancos e é um movimento exclusivamente negro?
De mais a mais, a reação do rapaz só mostra que de marginal, no sentido dos anos 70, isto é, bem-humorado, informal, libertador, coloquial e contestador, não tem nada. Ou tem, parcialmente: o lado contestador lacrador e faturador.
Uma pena que a curadoria tenha sido tão prontamente censória e mandado sumir com os livros da Excluída! O wokismo não está tão longe do Fahrenheit 451...

 

2.

 

A curadoria da Flipoços baniu uma escritora e seus livros - sim, isso mesmo: a feira de livros baniu livros! - porque ela foi acusada de racista. Não vi racismo no episódio, mas sim uma interação descontraída entre uma escritora branca e um escritor negro. Mas o escândalo foi produzido. O escritor negro, uma vez promovida a comoção, escreveu "a imprensa só escuta um escritor negro quando ele sofre um ataque racista". Não acho. Mas acho que um escritor negro que quer ser escutado pela imprensa tem um caminho mais fácil se se sentir atacado ou conseguir fazer crer que foi atacado por uma pessoa racista.
Isso me fez lembrar uma contrapartida: um escritor negro pode se esquivar de uma crítica honesta se atribuir ao autor da crítica uma atitude racista. Foi o que fez Itamar Vieira Júnior e critiquei numa postagem (http://paulofranchetti.blogspot.com/2023/06/racismo.html).
O suposto racismo, a alegação de racismo revela-se muito útil. Pode servir para promover ou fazer ser ouvido um escritor que ainda é desconhecido, e também para tentar calar o crítico de um escritor triunfante, muitíssimo conhecido, que está certo da sua excelência e perfeição.

sábado, 3 de junho de 2023

Racismo?

 Itamar Vieira Júnior escreveu um texto sobre Vini Júnior. Nele, o escritor, a pretexto de manifestar solidariedade ao jogador, contesta uma crítica ao seu novo romance. Diz ele:


“Acabei de colocar um romance na rua e nele mais uma vez segui meu propósito de narrar a história da minha gente, daqueles que me antecederam e daqueles que me cercam. Estou no meio literário há pouco tempo, mas já acumulei repertório suficiente para escrever uma etnografia desse grupo. É claro que eu esperava racismo por minha insubordinação de continuar a escrever. Esperava que alguém me lembrasse, como o professor branco, que meus pés jamais deveriam ter deixado a senzala.”

“Então vou contar para vocês os adjetivos que ganhei de uma professora branca em redes sociais simplesmente porque decidi ignorar a "cusparada": "sujeito" (alguém inferior que não pertence à sua classe e raça), "arrogante" (já vi o mesmo adjetivo destinado a outros corpos negros altivos, como Djamila Ribeiro, Luiza Bairros e Silvio Almeida) e "preguiçoso mental" (será que é um insulto xenófobo por eu ter nascido e ainda viver na Bahia?).”


Curioso, fui atrás do quiproquó. 


Li, primeiro, o texto de Lígia G. Diniz. E, nele, estes trechos que devem ter irritado sobremaneira o escritor:


“Talvez, no entanto, a literatura de Itamar Vieira Junior encarne, mais do que qualquer outra no país, o espírito do tempo, e isso as vendas mostrarão melhor do que uma resenha. É mesmo um mérito saber sintetizar assim uma tendência. Para a literatura brasileira, porém, esse sucesso aponta o status enfraquecido da ficção imaginativa e o triunfo da narrativa didática e moralizante, que se esquiva da complexidade humana e finca o pé na prescrição de como o mundo deve ser encarado.

Não se trata só de sucesso de público, no entanto, e é preciso refletir acerca das razões para que esse tipo de literatura obtenha tanto espaço institucional — dos prêmios à atenção recebida pela mídia, o que inclui esta longa resenha. É frustrante que essas razões apontem para o caminho do autoflagelo fácil, e nada produtivo, de uma elite ilustrada que, para expurgar a culpa por seus privilégios, celebra narrativas maniqueístas (e, ironicamente, muito cristãs) em que miséria é sinônimo de virtude, e a desigualdade brasileira se explica pelas ações de monstros muito, muito malvados.”


É verdade que a autora da crítica, a julgar pela foto dela numa rede social, é branca. Mais que branca, pelo que vi: é ruiva e tem olhos claros. O que talvez, de um certo ponto de vista, a desqualifique de uma vez por todas para tratar do texto de um homem pardo. (Penso agora que talvez eu mesmo, apesar de não ser totalmente branco na Europa por conta da costela árabe, sendo suficientemente branco aqui, devesse ser forçado a calar a boca nesse caso.)


Aliás, “calar a boca” foi o motivo da tal briga em rede social a que alude Itamar. E foi assim: ele bloqueou a crítica numa das suas redes, e ela reclamou disso em público. Foi aí que disse que a recusa dele à crítica era preguiça mental e que o bloqueio foi prova de arrogância. Ele, por sua vez, na Folha, equiparou essa reclamação aos insultos recebidos por Vini Jr. e logo traduziu tudo em clave identitária. Afinal, além de ela ser branca, o editor da Quatro Cinco Um (segundo Itamar, pois eu não conheço ninguém ali) é branco!


Ora, mesmo correndo o risco de também ser equiparado à torcida espanhola que xingava Vini Jr. de macaco, devo dizer que a crítica da Lígia me pareceu rigorosa, coerente e sem ponta de racismo. 


Por isso mesmo, creio que o Itamar, ao equipará-la aos torcedores espanhóis e ao se comparar ao Vini Jr. apenas reforça, confirma a propriedade da crítica que ela faz nos parágrafos transcritos. 


Ou seja, sem absorver a crítica, ele optou por bloquear a autora dela, tirar-lhe o direito de fala no perfil dele, o que deve parecer grave para os que frequentam esse universo fervente que são as redes sociais. Caindo ela na esparrela de reclamar, Itamar conseguiu a resposta mais fácil e lucrativa ao texto dela: tratou logo de se engatar no Vini Jr, surfar na onda e faturar. Com um ganho adicional, qual seja o de prevenir-se de futuras críticas de pessoas não-negras ou não-pardas. Como quem diz: - olha aqui, brancos e brancas: vocês podem ler os meus livros, mas a atitude correta que lhes cabe é fazer logo um ato de contrição e calar a boca sobre qualquer reparo que queiram fazer aos meus produtos, seus racistas!