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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Prêmios literários

 Participar do júri de um grande prêmio literário é interessante por permitir uma visão ampla do que se produziu em determinado gênero no ano anterior. É um dos poucos momentos em que a gente escapa do marketing direto e indireto, e das recomendações e inclinações pessoais. No dia a dia, a escolha do que comprar para ler está condicionada à disponibilidade de recursos. O investimento é determinado pelas resenhas dos jornais (quase sempre subordinadas ao poder de marketing das editoras), pelo nome dos autores, pelo selo editorial. Num concurso, não: há de tudo e mais um pouco. A custo zero. Uma pena é que agora a gente não julga livros, no sentido próprio da palavra. Não julga os objetos na sua materialidade, mas apenas o seu “conteúdo” – por assim dizer –, a sua imagem numa tela de notebook ou computador de mesa, ou mesmo celular.

Neste ano tive a sorte de poder participar de dois júris em certo sentido complementares. No Jabuti, na categoria poesia de autor estreante. Na Biblioteca Nacional, na categoria poesia tout court. Se no Jabuti eu tivesse sido designado para “poesia”, por certo a sobreposição de obras seria bastante significativa. Da forma como foi, o exemplário terminou por ser o mais amplo possível.
Lendo postagens nas redes sociais, percebi que há sempre desconfiança. Normalmente, de autores que tinham mais expectativa ou de seus amigos próximos. Mas as desconfianças me parecem infundadas nesses dois casos.
Percebi também que as pessoas desconhecem o modo de funcionamento dos júris. Há muitos prêmios atualmente, e eu só posso falar desses dois que nomeei e têm funcionamento diverso. Então aproveito o post para contar.
No Jabuti, cada jurado atribui as notas nos quesitos sem fazer ideia de quem são os outros dois. As notas são tabuladas e os vencedores são proclamados. Só então os jurados ficam sabendo com quem trabalharam. Uma particularidade desse prêmio é que um jurado pode se surpreender com o resultado, vendo ganhar em primeiro lugar uma obra que não foi escolhida por ele para tal colocação, já que é a média aritmética que decide. No caso do prêmio da Biblioteca, os jurados têm de ser informados sobre seus parceiros de empreitada, porque ao final dos trabalhos será redigido um parecer conjunto, justificando a atribuição do prêmio à obra vencedora. Cada jurado também atribui três notas a cada obra, em três quesitos; a comissão do prêmio tabula os resultados; com isso se obtêm os três primeiros colocados; cabe então ao júri justificar a escolha que fez ao atribuir as notas.
A trabalheira este ano, com dois júris, foi imensa. Mas compensou, pois foi uma oportunidade única de tomar pé na poesia publicada no Brasil, uma oportunidade de ler livros que eu jamais compraria por iniciativa própria, ou por falta de recursos, ou por desconhecimento, já que muitos livros apresentados são edições regionais ou do próprio autor. Poder conhecer a produção do ano anterior sem gastar um tostão e ainda recebendo uma modesta retribuição financeira... que mais poderia pedir? A pergunta é retórica, claro, pois seria bem-vinda uma retribuição melhor do que a que existe hoje, simbólica, já que o trabalho é enorme! Mas a verdade (que não devia ser conhecida dos organizadores dos prêmios) é que eu faria o trabalho até de graça, só para poder tomar o pulso, de modo amplo, da poesia publicada no Brasil.