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quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

Machado na hemeroteca

 Não saberia como louvar com palavras justas o trabalho de digitalização dos jornais feito pela Biblioteca Nacional. Neste período difícil, enquanto não me posso permitir trabalhos de maior fôlego, percorro com prazer tanto o passado distante, quanto o passado imediato. Andei, por exemplo, pela revista A Estação, onde Machado publicou, entre outras obras, “O Alienista”. Está certo que aí o interesse foi utilitário: devo escrever algo sobre esse conto e por isso achei interessante ver onde e como foi publicado, onde foram os cortes, se eles coincidiram com as partes lógicas, se nos cortes há “ganchos” etc. Pode parecer uma tarefa sem sentido, mas talvez não seja nesse caso e em alguns outros. 

Antes, porém, de especular sobre isso, devo dizer que me divertiu ver os trechos de Machado entre brocados, espartilhos e todas as  notícias de figurinos franceses. Aquilo era o mundanismo impresso, o sonho de consumo das endinheiradas da época. E mostra que, de fato, o “leitora” com que Machado interpela a pessoa que lê pode ser lido em clave dupla: uma pragmática, pois o lugar de publicação tinha majoritariamente esse sexo como destinatário; outra irônica, no sentido de que a expectativa de leitura do suposto leitor ou do lugar, por um lado, e o objetivo e expectativas do autor, por outro, podiam não coincidir.

Agora voltando ao ponto. Mesmo que não se justificasse no caso de “O Alienista”, não é desprovido de interesse esse tipo de excursão temporal na materialidade das letras, porque devo escrever também, se a tanto me ajudar saúde e arte, algo sobre “Casa Velha”. 

Creio ter lido em Lúcia Miguel Pereira que ela considerava que a composição da “Casa Velha” era bem anterior à data da sua publicação. E mais: ela acreditava que o texto tinha sido desenterrado para cumprir obrigações jornalísticas. Já John Gledson discorda e atribui a esse mesmo conto a responsabilidade de fechar um quadro de análise temporal da sociedade brasileira. Isso quereria dizer que teria lugar de relevo na sua obra. De fato, até certo ponto o machadiano inglês faz dela uma espécie de chave para a compreensão da relação da ficção com a história.

Ora, confesso que desde o princípio concordei com ela e não com ele, porque não vi nunca maior atrativo nesse texto. Nem logo que li, nem mesmo depois de ler o livro do Gledson, nem hoje. Parece-me uma pouco interessante retomada dos romances primeiros de Machado, algo portanto deslocado em relação ao que ele fez depois da “virada” das “Memórias Póstumas”.

Talvez por isso me interessasse ver como se recortou, para publicação em “A Estação”, o texto de “Casa Velha”. E o que vi foi que o corte é, por assim dizer, aleatório. Não se faz de acordo com as partes lógicas do enredo, nem segundo “ganchos” narrativos. Também a extensão das partes é muito variável. Isso poderia simplesmente significar que o texto não foi pensado como folhetim, ou melhor, como publicação seriada. Mas creio que não. Creio que essa constatação só reforça a minha concordância com Lúcia Miguel Pereira: o texto parece mesmo ter sido um tampão, por assim dizer. O que havia à mão para cumprir o compromisso.

Em seguida, abandonando o século XIX, de um salto mergulhei no suplemento literário do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, onde fiquei zanzando pelos meados da década de 1950, com outras confirmações ou descobertas divertidas. 

Ah, as maravilhas da tecnologia! E pensar que quando fiz a dissertação sobre a poesia concreta tive de ficar quase 15 dias no Rio de Janeiro, porque a BN estava em crise e os andares funcionavam em dias alternados... Era então muito difícil obter microfilmes. E nem se imaginava que um dia houvesse celulares para fotografar o que interessasse! Quando mais que um dia, de um lugar qualquer, com um simples notebook, sem pedidos a bibliotecários bem ou mal humorados, arquivistas lentos ou rápidos, se pudesse ter acesso quase instantâneo à memória dos séculos...

quarta-feira, 12 de junho de 2013

O Primo Basílio e a Batalha do Realismo no Brasil - imagens



O Primo Basílio e a Batalha do Realismo no Brasil


No livro Estudos de Literatura Brasileira e Portuguesa (Cotia: Ateliê Editorial, 2007) encontra-se um capítulo com esse título, no qual analiso o impacto da publicação do romance no Brasil.

O leitor interessado encontrará aqui um suplemento documental ao que lá vem descrito. Trata-se de reproduções de charges e recortes de jornal cuja reprodução não pareceu caber naquele volume. 

Acrescenta-se aqui também, para melhor configuração do "Basilismo" uma tabela com as publicações dispostas por data e por órgão de imprensa.

Antes de cada ilustração, reproduz-se a sua apresentação no referido capítulo.

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No dia seguinte ao da publicação do texto de Ferreira de Araújo, O Besouro traz uma charge de Rafael Bordalo Pinheiro, na qual se vê um comendador velhote, casado com uma jovem, que lhe apresenta um janota.
O diálogo é simples:

Madame *** – O primo Quincas que volta de Paris.
O comendador (à parte) mau... mau...

***

No dia 27 de abril, o periódico traz nada menos do que 5 trabalhos centrados na polêmica do realismo. Dois dos quais trazem referências diretas a Machado de Assis.
O primeiro é um poema dedicado “Ao L. da ‘Gazeta’”, isto é, a Ferreira de Araújo.
O poema se intitula “As botas de Eleazar” e consiste no achincalhe de um apólogo publicado por Machado em 23 de abril, em O Cruzeiro, intitulado “Filosofia de um par de botas”.


Na versão do Besouro, ressalta o ridículo da situação: o escritor, após um almoço excessivo, não encontra maior objeto para o seu “estilo ardente” do que as botas velhas “tão rotas! / batidas de vento e mar!”. O quadro é cômico pela desproporção entre o estilo atribuído a Machado e os objetos do seu texto, que aparecem como uma versão diminuída do gosto romântico por ruínas.

***

O segundo é uma charge de Bordalo Pinheiro, intitulada “Literalogia”.
Sob esse título, lê-se que a cena é o “Casamento do Comendador Mota Coqueiro e de Iaiá Garcia”. No desenho, uma emotiva e lânguida Iaiá revira o olho para Basílio, que surge janota, com olhar safado. O texto da charge diz:

No momento em que Iaiá Garcia e o Sr. Mota Coqueiro recebem a voz, dada pelo bojudo medianeiro dos idealismos, cai, como um raio junto aos cônjuges, o Primo Basílio que, tendo esgotado em sensações novas toda a borracha do Paraguai, volta a explorar a borracha do Pará esperando igual êxito. Ao ver, porém, Iaiá Garcia casando por conveniência com Mota Coqueiro, homem que apenas se prende às sensações do seu negócio, embeve-se [sic] no tranqüilo olhar cor de rosa onde se refletem os azulados raios da argêntea lua; e suspenso em êxtase das áureas e vastas madeixas cor de cenoura da poética Iaiá, atira para trás das costas a borracha do Pará e diz: – Estava transviado! Estou confundido. – Esta Iaiá é quem me vai dar sensações novas! Olaré!


Outras referências presentes no texto:


Anúncio do lançamento do livro de Machado, na época da chegada de O Primo Basílio.



***


Começo do artigo de Machado em O Cruzeiro


***

Nota de A Revista Ilustrada, de 27 de abril


***


Anúncio no jornal O Besouro

****

Detalhe do canto inferior direito do enorme jornal lido no anúncio reproduzido acima

***

Ecos do Basílio e da "sensação nova" em anúncios. No caso, no Diário do Rio de Janeiro, 31/5

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O Besouro, 1 de junho

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-------------------------------------------------------APÊNDICE--------------------------------------------------------------------
TABELA GERAL (MAS NÃO EXAUSTIVA) DAS PUBLICAÇÕES REFERIDAS NO TEXTO E OUTRAS, NÃO REFERIDAS MAS RELEVANTES PARA AFERIR O "BASILISMO"



DATA
ÓRGÃO DE IMPRENSA
TÍTULO
AUTOR
ASSUNTO
25 mar

Gazeta de Notícias

“Cartas portuguesas”

Ramalho Ortigão
Crítica ao romance
06 abr

O Besouro

S/t
“A. Praia”
“Tudo aquilo são cenas que podem um dia acontecer entre mim e V. Exa.”
12 abr

Gazeta de Notícias

“O Primo Basílio”
“L.”
(Ferreira de Araújo)
Crítica ao romance
13 abr

O Besouro

“Depois da leitura de OPB de Eça de Queirós”
Rafael
Bordalo Pinheiro
Charge: o primo Quincas que volta de Paris
16 abr

O Cruzeiro

“Literatura realista – O Primo Basílio, romance do Sr. Eça de Queirós – Porto – 1878”
“Eleazar”
(Machado de Assis)
Crítica ao romance
20 abr
O Besouro





Gazeta de Notícias
“O que fez o Primo Basílio no Paraíso”





“Ainda o Primo Basílio”

“Dr. Calado”





“S. Saraiva”
(Henrique Chaves)
Historieta. Diálogo de Basílio com Pio IX e trocadilho com a ‘sensação nova’.




Discussão do artigo de Eleazar.
23 abr
Gazeta de Notícias
“Palestra”
Luís de Andrade
Artigo com trecho dedicado à crítica do romance
24 abr
Gazeta de Notícias
“Eleazar e Eça de Queirós – Um crítico do Primo Basílio”
“Amenophis-Effendi”
(Ataliba Lopes de Gomensoro)



Discussão do artigo de Eleazar
27 abr
O Besouro
“Literalogia – Casamento do Comendador Mota Coqueiro e de Iaiá Garcia”


“Ao L. da ‘Gazeta’

“Qual é o maio defeito do ‘Primo Basílio’?”


“Aos entusiastas do Primo Basílio”


“Aos maldizentes do Primo Basílio”

Bordalo Pinheiro




Jeremias

“Dr. Calado”



“Um bom guarda nacional”


“Um bom pai de família”
Charge: o Primo Basílio aparece no casamento de conveniência da Iaiá e diz que ela lhe vai dar ‘sensações novas’


“As botas de Eleazar”

Discussão do romance e das críticas ao livro.



Poema satírico.



Poema satírico.
28 abr
Gazeta de Notícias
“A semana”
“F. de M.”

Crônica: “o basilismo alastra por toda parte”.
30 abr
O Cruzeiro

Eleazar
2o artigo de Eleazar (Machado de Assis)
03 maio
Gazeta de Notícias
“Uma das razões de um decreto – Ainda Eleazar”
“Amenophis-Effendi”
(Ataliba Lopes de Gomensoro)
Resposta ao segundo artigo de Eleazar.




04 maio
O Besouro
Anúncio de capa – homem lendo

“Eça de Queirós”

“Zumbidos”



Bordalo Pinheiro

“D. Jaime”
Propaganda c/ ref. ao Primo

Homenagem: desenho de página inteira, com personagens do romance.

Crônica: “epidemia” de basilismo.
08 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso em Portugal” – Aos vates da Paulicéia
“Três estrelas do Cruzeiro”
Poema à “escola que fez Basílio
09 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso em Portugal” – Auto da fé
“Quatro estrelas do cruzeiro”
Poema em louvor da “idéia-nova”

10 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Missiva a Lopes Trovão
“Veteranos do Romantismo”

Poema
11 maio
O Besouro


Revista Ilustrada

Diário do RJ
“Depois da missa”


s/t


“A guerra do Parnaso” – “Em vão, ó musa...”
“O Mateus Aguiar”

s/a


“Flor de Lis”
Poema satírico contra Eleazar


Comentários ao anúncio da peça


Poema
12 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” –
Eu nunca me assinei
romântico...

“Seis estrelas do Cruzeiro”
Poema em favor da “moderna idéia”: “se não tenho na estate a triste Nebulosa, / As Falenas do Assis...
13 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Realista e romantismo
“Erckeman- Chatrian”
Poema pró-realismo
14 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – D. Juan
Theophilo Dias

15 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – No meu bairro
Arthur Barreiros
Poema: “Um pálido Basílio, um sacudido moço...”
16 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Arredai! Arredai...
“Arnaldo Colombo” (?)
Poema pró-realismo
17 maio
Diário do RJ



A lanterna
“A questão do Parnaso” – Tu



“De quinta a quarta”
V. Magalhães
(Valentim Magalhães)

“Ninguém”
Poema pró-realismo



Crítica à Gazeta  por se ocupar tanto de O Primo
18 maio
O Besouro





Diário do RJ
“Teatrologia”


“já está fora de moda”


“A guerra do Parnaso” – Romântico
Bordalo





Lins D'Albuquerque
“O Primo Basílio nos mostrará o que são sensações novas”.

comentário


Poema: “anda por toda a parte / A namorar as Helenas
19 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Velha romanesca em cena
“Prudhome”

Poema anti-romântico
20 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” –As três estrelas do Cruzeiro
“Castor e Pólux”

Sátira do romantismo
21 maio
Diário do RJ
“A guerra do Parnaso” – Novo ideal não force...
“Ernestinho”

Sátira do realismo
22 maio
Diário do RJ
“A questão do Parnaso” – Musa romântica
“Lírio Branco”
(Alberto de Oliveira)
Sátira da musa romântica
25 maio
Revista Ilustrada
 S/t
S/a
Comentário a mudanças no comportamento de “Eleazar-o-jovem”, que parece correr o risco de tornar-se republicano ou realista.




26 maio
Diário do Rio de Janeiro
“Um reposteiro ao Primo Basílio – esboço crítico-realista” – primeira parte
“Neotes”
Artigo crítico sobre o romance.

27 maio
Diário do Rio de Janeiro
“Um reposteiro ao Primo Basílio – esboço crítico-realista” – conclusão
“Neotes”

01 junho
O Besouro
“A Luiz Furtado Coelho”




“A Guerra no Parnaso”



“O primo Basílio”


“À musa realista”
“À musa retumbante”
“À musa romântica”
S/a




Pietro Nervi



S/a




S/a
“só as almas fortemente temperadas ... resistem à torrente invasora do que se chama realismo”

Poema satírico, dirigido a Luiz de Campos, “escravo do Junqueiro”.

Crítica à encenação da peça


Sátiras aos estilos
04 junho
Diário do RJ
 “Guerra do Parnaso” -
“Elias da Fonseca” (Demerval da Fonseca?)
Poema pró-romântico.
08 junho
O Besouro
“Leituras só para homens”

Nota sobre Eleazar e o calembourg
“Kit”

“Charbovary”
Refere o anúncio do Diário.

15 junho
O Besouro
“Modelo da escola realista”


“Modelo da escola lírica”
“D. Filho, o lírico”

“D. Filho, o realista”
Sátira das polêmicas da Guerra do Parnaso




06 jul
O Besouro
“A nova sensação (A propósito do ‘Primo Basílio’)”
Carvalho Júnior
Soneto


18 jul
O Besouro
“Ilmo. Sr. Conservatório”


“No rink – (Nova sensação)”


“O Primo Basílio”
“Julião”


“K. Marão”


s/a
Sobre a encenação de O Primo Basílio.

Poema: “Um Basílio patinando...”

Crítica à peça.

26 ago
Diário do RJ
“Vende-se”


S/a
Sátira do romantismo
02 set.
bro
Diário do RJ
“Empresta-se”



“Richepin & Frank”
Sátira do realismo