Mostrando postagens com marcador crítica literária. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crítica literária. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Sobre crítica literária (uma palestra)

Propus-me a falar aqui da crítica que tem por objeto o texto literário. A princípio pensei em mapear os discursos que, hoje, se fazem sobre o texto literário em modo crítico, isto é, textos que consistem na interpretação e na avaliação dele. Tinha decidido, pois, que faria aqui algumas considerações fundadas na experiência de leitura e na observação de casos, com escopo predominantemente descritivo. O que não me eximiria de, em algum momento, refletir sobre o que a crítica poderia ser, no seu melhor estado, ou sobre o que a melhor crítica, do meu ponto de vista, consegue ser. 

A questão, entretanto, terminou por não parecer tão interessante, nem tão urgente, quando comecei a preparar esse texto e fui buscar, para retomar algumas questões, um artigo que publiquei no volume Estados da crítica, organizado por Alcides Cardoso dos Santos. Mas quando voltei a esse livro, vi que tinha assinalado uma passagem no texto com que para ele contribuiu o organizador. Aquela na qual ele se pergunta, a partir de Paul De Man, “com que olhos a crítica deve ser lida, com os olhos do texto literário que ela lê ou com os seus próprios olhos?” e, dessa indagação, passa a esta outra: 


“se a crítica, como propõe De Man, deve ser sempre imanente, isto é, deve depender do texto literário para sua existência, como pensar a possibilidade de uma crítica que independa completamente do texto que lê”? [p. 95]


O texto de Alcides está centrado na questão dos operadores conceituais como textualidade, différance, cegueira e insight, que, diz ele, “parece desarticular a fácil identificação de sujeito e objeto”. 

Mas a mim interessaria aqui (se tivesse tido tempo para isso e como contraposição apenas), agarrar a pergunta pelo seu valor de face e explorá-la primeiro nesta direção, bastante mais simples: no caso de uma crítica que independa totalmente do texto que lê, ainda é possível atribuir o nome de crítica (e especialmente: crítica literária) a esse discurso? 

Por exemplo: um texto crítico que tratasse de uma obra inexistente ou não acessível a nenhum outro leitor. Nesse caso, deixaria de ser crítico tal texto, desde que apresentasse os procedimentos retóricos usuais nos textos críticos? Ou a definição da crítica pressupõe o conhecimento ou o acesso do leitor do discurso crítico ao seu objeto? Ou, por outro ângulo: o que torna um texto pertencente ao gênero da crítica é apenas a sua capacidade de criar e atribuir sentido a um suposto ou real objeto de linguagem?

Aqui, além de eventuais exemplos históricos de críticas de obras que se perderam ou cuja totalidade se perdeu para nós, pareceu-me que seria interessante pensar sobre um texto como Fogo pálido, de Nabokov, e, principalmente, “Seymour, uma introdução”, de J. D. Salinger.

No primeiro, como se sabe, apresenta-se um poema atribuído a um escritor imaginário e o texto que se segue é uma leitura crítica alucinada, na qual um professor desenvolve uma análise do poema como prefiguração do próprio destino, comentando-o quase verso a verso, apresentando, de entremeio, cartas, entrevistas e outros textos que, em princípio, pudessem aclarar o sentido do poema, e finalizando tudo por um índice remissivo, como nos bons livros do gênero. 

Já no segundo, o irmão de Seymour – como Kinbote, professor – busca analisar-lhe a personalidade e a obra, comentando os 148 poemas em forma de haicai deixados por ele, mas que em parte alguma do livro virão transcritos. No mesmo texto, discutem-se ainda as críticas de Seymour aos escritos prévios do narrador, também ausentes do volume.

Por esse caminho, está claro, o objeto desta reflexão seria a crítica como um modo discursivo e de produção de sentido, com especial atenção para os mecanismos textuais que poderiam provocar o convencimento e a obtenção do crédito de confiança. Ou seja: esse caminho ergueria a hipótese de que é possível postular a existência de um modo crítico de produção textual, mesmo que o texto resultante não tenha partido de, nem tenha por objeto, um texto literário existente. Aposta que teria como depósito prévio a constatação de que muitas vezes lemos textos críticos sobre obras que não conhecemos e muitas vezes nem nos interessaremos por conhecer.

Mas em que sentido, nesse caso, abolida ou suspensa a relação sujeito/objeto, no caso de um texto sobre obra inexistente, ainda teríamos crítica? Por outro lado, se admitirmos que o discurso crítico literário pode existir (ao menos no domínio da ficção, diríamos neste momento) sem depender da existência de um pré-texto, as perguntas complementares poderiam ser assim formuladas: o que de ficção há na crítica em geral e o que de crítica há na sua construção meramente ficcional?

Portanto, tratar-se-ia de uma questão de grau, de deslocamento ao longo de um espectro e não de um contraste ou contraposição. Mas ainda assim persiste, ao menos como um dos extremos do espectro a postulação de senso comum de que um texto crítico, sendo um gesto de ambição cognitiva, exige que seu discurso se refira a outro texto, que ele busca descrever, compreender ou avaliar.

Mas nesse caso eu tenderia a pensar que ainda aqui não teríamos muita clareza, pois a ambição cognitiva como motor da aproximação ao texto literário define muitos discursos: desde aqueles que dirigem ao objeto questões concernentes ao seu lugar na história e seu valor estético, até os que foram descritos como “representação momentânea de possibilidades de interpretação que logo se dissolvem de moto próprio”, ou ainda “apropriações infinitas e arbitrárias, nenhuma das quais pode aspirar ao privilégio de ser verdadeira” (nas palavras de George Steiner). Entretanto, ainda neste caso, a proposição de interdependência implícita na relação sujeito/objeto não continuaria implicando uma reivindicação de qualificação de um dado discurso, por meio de verificações de abrangência, pertinência e coerência conceitual face às contradições presentes no objeto? 

No texto em que redigiu as frases que eu teria citado, se tivesse escolhido aprofundar o caminho que aqui vou percorrendo rapidamente, e que demonstram o seu distanciamento da perspectiva desconstrucionista, Steiner  afirmava a força das estratégias desconstrucionistas da leitura que, renunciando à verdade e à pretensão de estabelecer o significado do texto, aproximavam a crítica do literário e traziam um novo alento à leitura literária. 

Nas suas palavras de 1995: “tais estratégias constituem – conscientemente ou não – um exercício muitas vezes sedutor e, paradoxalmente, ‘reconstrutivo’, capaz de recuperar para o estudo da literatura e para a hermenêutica uma paixão e um desafio intelectual que se haviam perdido”. [Nenhuma paixão desperdiçada, Introdução]

Se prosseguisse por esse caminho, certamente teria de reconhecer que, lendo outro texto de Steiner, provocativamente denominado “Presenças verdadeiras”, de 1985, não pude deixar de lembrar que, para ele, que a energia das estratégias desconstrucionistas deriva em grande parte, por via da negatividade, da tradição metafísica ocidental. Isto é, que o desmonte da tradição e dos pressupostos metafísicos revela – e, ao revelar, faz recair sobre si a energia nela contida – a carga de significados e da memória das postulações transcendentalistas de um modo muito mais eficaz do que a aplicação automática e banal dessas mesmas postulações pode fazer.

Ao mesmo tempo, teria de reconhecer que, ao pensar a questão da crítica a partir  dos debates contidos no livro organizado por Alcides, senti-me tentado a concordar com Steiner, quando ele diz que a arte de um mundo sem transcendência é um shadow-boxing com a forma e que essa luta fantasmática, embora possa ser fascinante, é uma imagem do solipsismo. 

Por fim, não sei se resistiria a reproduzir aqui (e a desenvolvê-la ao máximo, comentando, por exemplo, resenhas acadêmicas) a sua postulação de que, ausente o grande desafio que era a presença de Deus (e o combate contra ele), a luta perderia atrativo para a maior parte do público. Mesmo que não partilhasse do tom nostálgico e algo desiludido que parece permear a sua perspectiva. Mas certamente me perguntaria pelo futuro das operações de redução à textualidade das questões colocadas pelos textos, embora talvez não ousasse ir muito longe nessa especulação difícil.

Por outro lado, provavelmente me sentiria tentado a admitir que não consegui ter clareza quanto aos meus sentimentos acerca desta formulação de Steiner sobre o que ele apresenta como método e condição da leitura:


Precisamos ler como se de fato as circunstâncias em que o texto foi escrito tivessem importância. O momento histórico que o cerca, as condições culturais e formais, o estrato biológico e o que podemos deduzir ou conjeturar das intenções do autor constituem recursos vulneráveis. Sabemos que tais recursos serão objeto da ironia severa e examinados para detecção de acidentes subjetivos. Isso, porém, não lhes reduz a importância, em absoluto. Eles tornam mais ricos os níveis de percepção e de função da obra; geram limites à complacência e à licença de interpretação anárquicas. 

Esse como se, essa condição axiomática, é a nossa aposta cartesiana-kantiana, nosso salto para dentro do sentido. Sem isso o saber reduz-se a um narcisismo transitório. [p. 46]


Da forma como está escrita, a opção só se sustentaria como formulação irônica ou confissão nostálgica de desajuste. Em qualquer dos registros, surge como proposição de um truque de leitura, que permitiria mimetizar formas de interpelação do texto que os pressupostos atuais não avalizariam.

Se eu tivesse continuado a discutir o que constitui a crítica – ao menos a crítica que mais me interessa como leitor e como professor –, não poderia concordar com o imperativo do “como se”. Teria de descrever de outra maneira a forma de leitura que pareceu interessante, afirmar claramente o interesse da leitura das circunstâncias do texto e das circunstâncias das leituras subsequentes do texto. 

E teria, por fim, de confessar que a descrição da história da constituição de um texto, por meio das suas várias leituras, a começar pelas que ele mesmo traz de si, ao se apresentar como texto vinculado a um determinado gênero e objetivo e ao dialogar com um conjunto parcialmente determinável de eventos, literários ou não, me seduz mais do que o livre exercício da interpretação segundo os interesses absolutos do presente.

E por essa via, pelos hábitos de leitura talvez, acabaria por me lembrar, por contraposição, de um perturbador ensaio de Richard Rorty, denominado, “O idealismo do século XIX e o textualismo do século XX”. Mas não para evocar a escandalosa frase na qual ele afirma que “de um ponto de vista pragmatista completamente desenvolvido, não existe nenhuma diferença interessante entre mesas e textos, ou entre prótons e poemas”, e sim para retomar a sua definição dos dois tipos de textualistas.

Por conta de tudo o que eu teria exposto, era de prever que eu me reconheceria mais afinado com o que ele denomina “textualista fraco”, por oposição ao “textualista forte”. O fraco, ele diz, “pensa que cada obra tem o seu próprio vocabulário, o seu próprio código secreto, que pode não ser comensurável com o de qualquer outra obra”. Já o “textualista forte” é o sujeito que “tem o seu próprio vocabulário e não se preocupa com saber se alguém o partilha” e, quando defrontado com o objeto literário, pauta sua ação sobre ele, isto é, a sua leitura e interpretação, por esta pergunta: “como devo descrever isto para conseguir que faça aquilo que quero?”. 

Para Rorty, não faz sentido pedir a um intérprete que argumente para justificar a sua leitura, que submeta a sua interpretação à discussão, uma vez que não lhe parece razoável supor que exista “um vocabulário comum em cujos termos os críticos possam argumentar uns com os outros”. Por isso, argumentará a favor da completa autonomia do crítico forte, que “não pergunta nem ao autor nem ao texto quais são as suas intenções, mas malha simplesmente o texto até tomar uma forma que serve os seus próprios propósitos”. 

No limite, a minha recusa a partilhar dos pressupostos do “textualista forte” poderia ser descrita, como o próprio Rorty previu no final do seu texto, como uma objeção de ordem moral. Mas não por conta dos argumentos que ele ali apresenta. Ao menos quanto ao que, nessa objeção moral, segundo ele, haveria de “recusa do isolamento da cultura literária em relação às preocupações humanas comuns”.

Minha discordância consistiria em que, mesmo me considerando textualista, eu não duvido que seja possível argumentar sobre a propriedade das leituras. 

Nesse passo da minha exposição – apesar de talvez já suspeito de ser apenas mais uma vítima da “metafísica da presença” –, eu seria tentado a defender a idéia de que o texto literário e a tradição da sua leitura constituem um conjunto de significados históricos e relações de poder simbólico que a crítica deve sempre ter presente. E não creio que a minha objeção ao “conseguir que faça aquilo que quero” radicasse numa aposta metafísica na permanência de uma essência do objeto. Seria antes uma desconfiança da cedência descompromissada aos desejos e objetivos do presente no trato com os objetos do passado.

Ou seja: do ponto de vista da crítica pragmática, eu apostaria – sem recorrer a nenhuma afirmação sobre a positividade do objeto e sem postular qualquer essência inalterável do objeto – muito pelo contrário, afirmando que o próprio objeto só se constitui como objeto por meio de uma atribuição social de sentido –, eu apostaria em que a descrição das várias etapas da sua constituição permitiria modalizar, corrigir ou dirigir o desejo do presente e aquilo mesmo que eu quereria que o objeto fizesse.

Em suma, apostaria em que a erudição e a perspectiva histórica responderiam pela minha maior identificação com o “textualista fraco” e pela minha desconfiança do que me pareceria excessiva autocomplacência do “textualista forte”.

Se tivesse articulado coerentemente essa reflexão, seria provável que então me ocorresse, nesse ponto, a crítica que Albrecht Wellmer fez a Richard Rorty, em Finales de partida: la modernidad irreconciliable, quando afirma que “uma cultura liberal dificilmente poderá ser entendida – menos ainda do que qualquer outra cultura – como um jogo fechado de linguagem.” E completa: “esta cultura – considerada na vertical do tempo – tem uma história e – considerada na horizontal do tempo – tem um exterior”. 

Wellmer está preocupado em buscar um ponto de apoio fora da perspectiva etnocêntrica. Daí que a alteridade temporal e a espacial sejam vistas como fontes de “uma série de bons e interessantes argumentos a favor dos princípios e instituições democráticos e liberais”. 

Seria a afirmação da importância da alteridade a que mais me prenderia e atrairia na releitura do texto de Wellmer. Não porque eu estivesse interessado na defesa da sociedade liberal, mas porque eu buscaria radicar justamente na busca e afirmação da alteridade uma das funções mais relevantes da crítica literária. 

Ou seja, eu me sentiria inclinado a afirmar que a literatura é uma fonte importante da experiência da alteridade, que o “literário”, na nossa cultura, implica sempre – ainda que negativamente, quando a perspectiva que o afirma é metafísica e está em busca de universais – implica sempre o reconhecimento das diferenças das formas de dizer e de sentir que se atualizam nos diferentes tempos e lugares. 

Parece-me razoável afirmar que, uma vez que a literatura se constitui justamente da contingência das leituras, tanto do ponto de vista da sucessão histórica, quanto do ponto de vista da sua situação mais próxima ou mais distante dos centros do poder simbólico em cada momento e lugar, é provável que ela seja uma boa seara onde colher argumentos a favor dos princípios e instituições liberais. Mas o que me importaria sublinhar, nesse movimento, não era essa sua função política, e sim este ponto: que a identificação daquilo que já não é possível que sintamos ou entendamos completamente, mas que já foi sentido e entendido por outros seres humanos (ou pelo menos, que pareceu ter sido sentido e entendido), seguida da reflexão sobre a diferença, constitui uma tarefa de ampla repercussão moral e social – e um exercício de autocrítica. 

Seria esse valor moral da atividade crítica que me impediria de simpatizar com o “textualiza forte”: o valor da tolerância face ao diverso e da recusa de moldar, praticamente sem amarras ou balizas, o passado sobre os interesses do presente.

 Na verdade, não se trataria de um empecilho à simpatia, mas sim de uma verdadeira antipatia pelo “textualista forte”, que hoje me parece mais próximo da promoção alegre da perspectiva etnocêntrica. Daí a minha complementar simpatia pela atitude do “textualista fraco”. Por um tipo especial de “textualista fraco”: aquele que busca nos textos distantes ou próximos não apenas a sua utilidade para as teses e linguagens que lhe interessam, mas também e principalmente aquilo que, nesses textos, problematize ou modifique as suas crenças e contrarie a satisfação dos seus desejos – mesmo as suas crenças e desejos relativamente à superioridade da sociedade liberal.

E terminaria esse percurso tortuoso, por expor, dentro dessa perspectiva, o que penso que sejam funções importantes da crítica, como reflexão sobre a história e exercício de alteridade: descobrir o interesse novo no objeto inatual, bem como destacar a persistência do gesto antigo no interesse mais recente; reconstruir o diálogo dos mortos, repor as questões que debatiam para, a partir desse ângulo reconstruído com a coerência possível, vislumbrar o caminho que percorreram aquelas vozes até nos tocarem no nosso próprio tempo. Enfim, realizar o esforço de pensar e sentir no limite das nossas referências, na distância vertical ou na distância horizontal do tempo (para falar como Wellmer). Em qualquer das direções da leitura, um dos efeitos possíveis e esperados é a historização do presente do crítico, isto é, a desnaturalização dos seus motivos e critérios, ou seja, dos sentimentos e crenças do presente.

Depois desse percurso algo tortuoso, eu teria por fim de declarar que, para responder à questão sobre a diferença entre a crítica e a literatura, levaria em conta sobretudo a atitude em direção à alteridade. Nesse sentido, a crítica literária que me interessa é a que se ocupa de textos que são – ou que, em algum momento, foram tidos como – literários, isto é, textos escritos para serem lidos também por não-críticos (e não-escritores, na maior parte dos casos). Ou seja, a crítica que tem como imperativo situar-se não só face ao texto que comenta, mas também face aos textos que a precederam no comentário dele ou que estão previstos por ele. Para melhor definição: a que tem de lidar com as convenções de leitura do literário e com os efeitos dessas convenções sobre a obra e sobre a leitura, ao longo do tempo, reconhecendo que o olhar com que a interpela provém de um ponto preciso na rede de significações do presente. 

Este é, portanto, o sentido maior que eu vejo na crítica: o de testar um desejo, uma preocupação, uma pressuposição razoável do presente, um vocabulário novo, contra um objeto que vem vinculado ao passado, a uma tradição e a uma forma de leitura; ou porque foi produzido no passado, ou porque já foi anteriormente revestido de sentido por outra leitura, ou, finalmente, porque comenta ou evita comentar textos que o antecederam e contra os quais ele se ergueu e se sustenta.

A conclusão deste percurso é, pois, a afirmação do lugar da crítica como o da historização e relativização das leituras – sem que a questão do valor se iluda, evidentemente, pois ela se apresenta não só na escolha, mas também ao longo de todo o exercício da leitura. Isso porque, como afirma Rorty, a última determinação do gesto crítico é uma rede confusa de crenças e desejos que me faz interpelar este e não aquele texto, dotá-lo de valor no meio da massa indiferenciada daquilo que seria possível comentar e sobre ele testar as minhas intuições sobre o meu próprio tempo e sobre o tempo do objeto, se forem diversos.

È justamente essa ideia de teste – acompanhada da consciência (e também da esperança) de que sempre haja algo no texto que resista à projeção dos meus desejos – que me impede de me imaginar no lugar do textualista forte, pois esse me parece o lugar da derrota da crítica, no que ela tem de melhor, que não é produzir um objeto novo ou falar de si própria ou constituir-se em discurso autônomo, mas sim encenar a crise, presentificá-la no próprio ato de apreensão e de análise do objeto, cuja resistência, tanto quando a sua cedência, constituem os limites do discurso que mais radicalmente merece o nome que lhe damos. 



Referências:

Rorty, Richard. “O idealismo do século XIX e o textualismo do século XX”. Consequências do pragmatismo (Ensaios: 1972-1980). Lisboa: Instituto Piaget, 1999.

Santos, Alcides Cardoso dos (org.) Estados da crítica. Cotia/Curitiba: Ateliê Editorial/Editora UFPR, 2006.

Steiner, George. Numa paixão desperdiçada. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.

Steiner, George. Real presences. Chigado: The University of Chicago Press, 1991.

Wellmer, Albrecht. Finales de partida: la modernidad irreconciliable. Madri: Ediciones Cátedra, 1996


Obs.: Texto lido em palestra por meio eletrônico da Casa das Rosas, em 15 de dezembro de 2021


sábado, 15 de setembro de 2012

A demissão da crítica


a demissão da crítica



Há algumas semanas, um escritor de Campinas com alguma projeção nacional, pois é colunista fixo de um caderno da Folha de S. Paulo, respondeu duramente a um jornalista que escrevera sobre o seu último livro. A resposta, em si mesma, era preconceituosa e pífia.[1] Mas havia nela um ponto de interesse, pois vinha à tona, despida na sua rudeza, a aversão à crítica que domina grande parte do meio literário brasileiro.
Eis o argumento: o jornalista evidentemente não gostara do livro; se, não gostando, escrevera sobre ele, ou o fazia por ser um pau-mandado da direção do jornal, ou por ser um mau-caráter, que merecia interpelação judicial. O terceiro excluído, que permitiu essa formulação dilemática, foi a idéia de que a crítica escrita se possa fazer espontaneamente, como exercício de inteligência e avaliação. A exclusão categórica dessa terceira possibilidade, como se ela pesasse pouco ou fosse quase impossível, a menos que fosse um ato de insanidade senil – e não foi, pois não foram poucos os leitores e autoridades que se solidarizaram com o revide do escritor –, devia contar, como apoio da sua credibilidade, com a existência de um acordo tácito que a tornasse palatável.
Para quem acompanha o mundo literário brasileiro, não é difícil identificar o acordo. Ele é mais ou menos generalizado, e se ergue em torno de um preceito que tem passado por regra de ética e polidez, embora seja mais propriamente o esteio do compadrio. Trata-se do princípio de que uma reação crítica deve ser publicada quando for, de modo geral, favorável à obra analisada, ou quando nela predominar o caráter de apresentação mais ou menos neutra. Caso contrário, o melhor procedimento é o silêncio público, que não será contraditório com a maledicência privada.
A infração a essa regra de ouro tem como resposta a inimizade, a censura ou a reação corporativa descarada, para a qual a crítica franca e aberta é desrespeito, insulto ou agressão.
Se o criticado não tem expressão, a crítica de fundo é entendida apenas como um ato ímpio ou pouco generoso. Se o criticado é alguém com lugar definido no mundo acadêmico ou literário, com uma posição em um dos blocos que loteiam os jornais e os bolsões da vida literária, a reação varia desde o revide por interposta pessoa até formas mais truculentas e diretas de censura.
Entre essas formas de censura pública se destaca, pela repercussão ampla na vida social, a moda brasileira do abaixo-assinado das celebridades.
O abaixo-assinado tem origem democrática. Consiste, em princípio, num documento no qual um grupo de anônimos se reúne para reivindicar, pelo número, o direito a voz ou a uma resposta que, individualmente, dado o próprio anonimato e face à indiferença do poder, nenhum deles conseguiria.
A modalidade em pauta, porém, nada tem de democrática, pois um abaixo-assinado subscrito por personalidades de expressão pública ou acadêmica, dirigido contra o direito de um cidadão se pronunciar, não tem outro desígnio que não seja o de exigir o silêncio ou a submissão, sem necessidade de apresentar argumentos. É um ato de puro poder, uma modalidade do “cala a boca” do chefe de facção ou do “sabe com quem está falando?” do poderoso do momento.
O que teve caráter de certa forma inaugural foi o que se organizou contra José Guilherme Merquior, no começo dos anos 80. Merquior encontrou, sem aspas, num livro de Marilena Chauí, alguns trechos de Claude Lefort, e registrou por escrito o achado. A conseqüência não foi a justificação do ato pela autora ou o debate sobre um procedimento acadêmico que podia dar margem a um questionamento nesses termos, mas um abaixo-assinado contra o crítico “de direita” que agredia a filósofa “de esquerda”.
O fato intelectual teve, por esse caminho, a sua importância apagada, e a notação crítica foi tratada como ato a anular, e não como um texto a ser encarado e rebatido no campo das idéias e argumentos.
Uma década depois, outro documento do mesmo tipo foi publicado contra Bruno Tolentino, em desagravo a Augusto de Campos. Aqui não houve argumento. O que esteve na mira dos subscritores foi o fato inaceitável de uma figura bem estabelecida nos meios intelectuais ter sido objeto de crítica violenta por um adventício, um recém-chegado sem lugar no meio literário nacional.
Mais recentemente, organizou-se um cala-boca solidário a Sebastião UchôaLeite, contra o jornal Rascunho, com uma novidade: a usual censura e repúdio não pareceram suficientes, e algum inimigo mais convicto da liberdade de expressão se empenhou num plano para extinguir o próprio veículo da crítica, isto é, o jornal, por meio de pressão coletiva sobre o seu principal patrocinador.
E há ainda que lembrar o abaixo-assinado contra o artigo de Nelson Ascher sobre Edward Said, que reuniu, contra uma crítica também política, personalidades várias, ligadas a diversas comunidades e a grupos teóricos de extração diversa.
Alguns nomes destacados figuram em mais de um desses documentos coletivos. Pessoas que, sem esforço, conseguiriam espaço na imprensa para apresentar argumentos e razões intelectuais para desqualificar e rebater a crítica indesejada. Por que preferiram o abaixo-assinado? Por simples preguiça intelectual e alinhamento partidário? Por gosto de estar em boa companhia, no caso dos menores, e por afetação de humildade, no caso dos mais célebres?
Sejam quais forem os motivos, o que importa ressaltar é o resultado do recorrente gesto de repúdio à crítica e ao direito de criticar. Essas brigadas ligeiras de combate, montadas acima das diferenças teóricas e políticas, capitalizando o prestígio intelectual dos seus integrantes a serviço da repressão do pensamento independente, naturalizam e revestem de dignidade o que é rasa violência de censura e namoro com o obscurantismo, em nome dos bons costumes e do respeito à hierarquia. O resultado é o estabelecimento de um princípio de bom-mocismo nacional e o reforço da necessidade de alinhamento a algum dos principais grupos regidos por uma figura totêmica, sem o qual o livre-pensador fica desprotegido e sem espaço de escrita e manifestação.
Também é digno de nota que, entre subscritores contumazes desse tipo de documento, se encontram membros do corpo docente das nossas melhores universidades. O que está em contradição com a imagem que a universidade constrói publicamente de si mesma, como lugar de embate de idéias e respeito à pluralidade de pontos de vista e opções teóricas.
Na verdade, o abaixo-assinado é apenas um sintoma – talvez o mais espetaculoso – de uma atitude ativa de repúdio à crítica que se enraíza na vida intelectual brasileira contemporânea. Uma atitude generalizada, que não apenas encontra abrigo e pasto privilegiado no meio acadêmico, mas ainda tem no funcionamento da universidade e no aparelhamento da mídia, especialmente a paulista, pelos grupos de poder que se formam no interior da instituição acadêmica, uma das suas fontes de renovada energia.
Na área das Letras (nas demais humanidades talvez não seja diferente, mas não posso erguer a voz em testemunho, como nesta) é costume geral as bancas examinadoras de teses e concursos universitários se montarem segundo critérios de amizade, dívida pessoal e apadrinhamento, ou ainda segundo a prática paternalista comum, que é a de se aceitarem as escolhas (e os vetos) dos próprios examinandos.
Por isso, nessa área, o exercício responsável da crítica em situações de exame é o caminho mais curto para o ostracismo. E mesmo nas situações que não envolvam exames públicos, o exercício da crítica independente, que viole a demarcação das áreas de influência ou contrarie um julgamento de chefe de grupo, recebe resposta imediata na forma de censura, isolamento institucional ou veto explícito à presença do crítico indesejado em empreendimentos intelectuais sob a influência da autoridade contrariada.
Talvez em outro país o relaxamento da crítica no interior da universidade não tivesse um impacto tão decisivo. Mas aqui, onde não há praticamente outras instituições de peso cultural, o seu papel formador é enorme e, por isso, a sua responsabilidade no processo geral de enfraquecimento da crítica é grande. Principalmente porque é no seu interior que se cria e acaba se abrigando, dada a limitação de possibilidades de vida cultural na mídia, a maioria dos praticantes das várias modalidades de crítica de literatura.
O crítico que escreve em jornal de grande circulação, hoje, no Brasil, ou é aluno, ou é professor, ou é aspirante a professor das universidades de primeira linha. Assim, ou como origem, ou como destino almejado, a universidade e o seu modus operandi, bem como as suas facções, acabam por reger também o ralo meio literário que sobrevive à sua margem ou à sua sombra.
Por isso é tão recorrente na imprensa a ânsia de glosar os lugares estabelecidos pelos discursos acadêmicos mais prestigiosos, ainda que disso resultem textos contraditórios ou incongruentes. E também por isso a imagem de respeitabilidade crítica se faz por meio de uma curiosa mistura: do olhar desdenhoso que a universidade ainda lança sobre o campo do presente com o esforço historizante, que busca substituir o debate sobre objetos pela proposição de linhas de filiação nas fontes canônicas eleitas e celebradas pelas versões hegemônicas do desenvolvimento da literatura nacional.
Não espanta, assim, nesse quadro de rarefação do embate crítico, no qual a regra é evitar o confronto, que a forma privilegiada do texto dedicado à produção literária moderna e contemporânea seja a glosa, tanto nos artigos elaborados para jornais, suplementos e revistas de grande circulação, quanto nos textos produzidos para circulação no meio universitário: monografias, dissertações, teses e relatórios de pesquisa.
O procedimento comum é a paráfrase ou a transcrição, em mosaico, das formulações metalingüísticas da própria obra ou do discurso do autor sobre si mesmo, presente em entrevistas, artigos e depoimentos. O que resulta, de regra, num discurso plano, levemente acadêmico e tedioso, cujo atrativo principal é servir de resumo ao que está presente na própria obra e nos seus paratextos; ou então de apanhado dos lugares-comuns da historiografia dominante, de modo a “explicar” o objeto pela filiação a um deles, como decorrência ou contraposição.
O resultado imediato é a anemia e o desinteresse que caracterizam a maior parte da produção brasileira que enfoca os textos literários do presente, incapaz de real enfrentamento com os objetos e problemas imediatos da cultura contemporânea e, principalmente, com a questão do valor.
A propósito, o escritor Nelson de Oliveira escreveu o seguinte: “as resenhas dos cadernos literários têm me interessado apenas na medida em que põem em evidência, para o freqüentador de livrarias, meu último trabalho. Ou seja, na medida em que divulgam uma obra recém-lançada, funcionando como ferramenta da propaganda e ajudando nas vendas”.[2]
É certo que a frase exibe algum cinismo provocador. E é certo que Nelson de Oliveira parece idealizar, em alguns pontos do seu texto, a crítica produzida na universidade, da qual é também praticante, em nível de pós-graduação.
No que diz respeito especificamente às resenhas, quem quer que venha acompanhando as páginas literárias dos jornais brasileiros não verá exagero na sua redução a instrumento de promoção de vendas. Nem nesta outra afirmação, que se encontra no mesmo texto: “o crítico literário – tanto o da imprensa quanto o das universidades – é, para os escritores de hoje, uma nova espécie de colunista social”.
Uma postura defensiva seria entender a declaração de Oliveira como um exemplo da dificuldade de os escritores perceberem qual seja o real lugar da crítica, ou sua função na vida da cultura.
Quanto a isso, é certo que, para boa parte deles, a questão da crítica sequer se apresenta como questão intelectual. O que se observa, por exemplo, quando se constata que inserir a assinatura num abaixo-assinado, sem sequer ler o documento a subscrever, é menos uma recusa da atividade crítica (ou do valor de um texto crítico específico) do que uma manifestação de solidariedade abstrata, isto é, de esprit de corps. Nesse caso, a recusa à crítica é quase uma reação fisiológica, despida de maior interesse: um gesto defensivo e corporativo, dirigido contra algo que parece apenas uma ameaça ao espelho narcísico ou aos resultados de vendas.
Mas o próprio gesto automático de repúdio à crítica só é possível e freqüente porque na vida literária brasileira é muito forte o descrédito atual da crítica. Ou seja: ele não é produto, mas produtor dos múltiplos gestos afetivos, provindos do campo artístico.
Tal descrédito deve ser debitado em parte à conta dos próprios agentes que atuam no campo crítico e definem os seus limites e regras de funcionamento. Porque, de fato, talvez seja só um pouco exagerado dizer que, neste momento, é cada vez menos necessário ler a crítica literária brasileira, especialmente a publicada em jornal. É claro que há exceções e que alguns nomes destoam do cinzento usual. Mas na espessa maioria dos casos, basta passar os olhos pelas páginas e colunas, tomar consciência do que foi resenhado, anotar quais livros receberam espaço na mídia, quais vieram acompanhados de um retrato do autor ou uma foto da capa, em que tamanho etc. O texto quase nada acrescenta à sua própria presença na página, e usualmente o título e a avaliação final, icônica, quando existe, bastam para que ele tenha cumprido a sua função.
Mas não só. Essa é apenas a maneira mais leve de encarar a questão, que lhe reserva inclusive certo glamour kitsch: a crítica como colunismo social. Mas, por conta da substituição do gesto crítico pela simples ocupação do espaço, a crítica contemporânea é mais propriamente descrita como modalidade do marketing, sendo as páginas culturais dos jornais, revistas e suplementos de grande circulação objeto do mesmo tratamento profissional que recebem hoje as gôndolas das redes nacionais de supermercados.
O estado atual da crítica não é, portanto, resultado de algum fator subjetivo ou contingencial, como a ausência de bons talentos críticos depois do que teria sido o grande momento dos anos 50 e 60. É certo que a universidade, subordinando as questões intelectuais ao aparelhamento ideológico e fugindo ao embate crítico em nome dos interesses pequenos e imediatos da luta pelo poder local, contribui decisivamente para a eliminação da tensão crítica. Mas a persistente falta de tônus intelectual e a ausência ou omissão dos agentes conseqüentes, que, juntas, promovem a demissão da crítica da vida literária brasileira, não encontram explicação na vaidade dos criadores, na pouca inteligência ou na falta de coragem do articulista de jornal ou redator de ensaio universitário. Esses são apenas os epifenômenos. O movimento completo tem um desenho mais complexo, pois, embora todos os fatores já enunciados concorram para o caráter anódino da crítica literária brasileira contemporânea, o mais importante deles, em minha opinião, tem tido pouca visibilidade: o fortalecimento e a internacionalização da indústria do livro e do entretenimento literário no Brasil, e a conseqüente valorização do campo da literatura, que, pela primeira vez, se constitui em mercado importante do ponto de vista dos resultados de vendas.
Ou seja, mesmo tendo origem autônoma, a ductilidade e a eliminação da aresta indesejada da avaliação e do embate das idéias se ajustam perfeitamente às necessidades da indústria e do comércio jornalístico e livreiro.
É, portanto, da convergência entre os interesses gerados pelo fortalecimento do mercado, por um lado, e o enfraquecimento do meio intelectual, por outro, que resulta o quadro atual da crítica brasileira. E se a falência momentânea da crítica poderia ser explicada “por dentro”, isto é, a partir das formas de exercício do poder intelectual no Brasil contemporâneo, a letargia que a mantém longamente nesse estado falimentar já não pode, pois se deve à coincidência entre esse momento de fraqueza e o fortalecimento e multiplicação dos interesses industriais e comerciais ligados à produção de livros, notícias e eventos literários.
O abastardamento do crítico em divulgador, parafraseador e cortejador dos vários lugares do poder intelectual tem, nesse quadro, função precisa e preço alto, pois o que poderia parecer, a princípio, um estranho dublê de colunista social e agente secundário de marketing acaba por ser o perfil mais adequado à ocupação dos espaços de mídia. Uma ocupação, diga-se, que se processa de forma coerente e metódica, em progressão racional: das matérias esparsas ao controle e editoria de seções especializadas, e destas ao trabalho de assessoria a editoras, que se valerão, depois, desses mesmos espaços para a divulgação dos seus produtos, sem esquecer a prestação de serviços na organização e atribuição dos prêmios literários, que são uma das formas mais eficientes de promoção de vendas para as grandes editoras.
O resultado textual é, pois, o que menos importa na atividade do novo modelo de profissional das Letras. Na verdade, sequer está em causa o sucedâneo de texto crítico que hoje ocupa as páginas dos jornais e das revistas literárias, sob a denominação “resenha” ou “ensaio”. A forma de discurso anódino, que evita o confronto com os objetos particulares, bem como o posicionamento perante as questões candentes da cultura contemporânea, e que homenageia e projeta na mídia os vários pólos do poder localizados na universidade, não conta pelo que diz ou deixa de dizer. Conta apenas como objeto pacífico, transparente, que, justamente pela insipidez, se oferece à indústria e ao comércio como instrumento altamente eficaz de divulgação, num ambiente no qual, por conta da demissão da crítica, o espaço preenchido acaba por ser a forma privilegiada, se não mesmo a única, de promoção do produto junto ao consumidor a que ele se destina.





[1] Rubem Alves, “Mascando pimentas”. Campinas: Correio Popular, 27-02-2005. Sobre esse texto escrevi um artigo, intitulado “Orgulho e preconceito”, que foi publicado no mesmo jornal em 02-03-2005 e se encontra disponível em www.unicamp.br/franchet/r_a.htm .
[2] Verdades provisórias: anseios crípticos. São Paulo: Escrituras, 2003, p. 38.