O Primo Basílio e a Batalha do Realismo no Brasil
[[VER AO FINAL, PARA MELHOR CONFIGURAÇÃO DO "BASILISMO", A TABELA DE PUBLICAÇÕES]]
O Primo Basílio foi posto a
venda em Portugal em fevereiro de 1878.[1]
Cerca de um mês depois, na Gazeta de Notícias do dia 25 de março,
aparece publicada a primeira nota sobre ele na imprensa brasileira.[2]
Trata-se de um artigo do escritor português Ramalho Ortigão, correspondente do
jornal carioca.
Datado de Lisboa, 22 de fevereiro,
traz já para o centro do debate a questão da imoralidade do romance, que será a
tônica da maior parte dos textos publicados nos meses seguintes.
Segundo Ramalho, os pontos altos do
livro são o estilo e a construção das personagens Luísa e Juliana. Já os
defeitos seriam três: a figura de Basílio, a crueza das cenas e dos temas e a
ausência de paixões fortes nas personagens.
Ramalho não julgava bem construído
o caráter de Basílio, porque não lhe parecia verossímil que um português que
viera para o Brasil, voltara rico e estava em Lisboa a negócios, pudesse ter
uma compleição moral como a que Eça lhe atribui. As virtudes do trabalho, que o
teriam enriquecido, não combinariam com a sua afetação de toalete, nem com a
canalhice do seu comportamento com Luísa.
Esse era o primeiro defeito do
livro. O mais grave, porém, era o que apontava na seqüência: a objetividade
despudorada de muitas passagens:
a delicadeza do gosto – escreve ele – revolta-se muitas vezes contra essa
fidelidade sistemática dos pormenores. As cenas d’alcova são reproduzidas na
sua nudez mais impudica e mais asquerosa. As páginas que as retratam têm as
exalações pútridas do lupanar, fazem na dignidade e no pudor largas manchas
nauseabundas e torpes como as que põem nos muros brancos os canos rotos.
E com esta terceira ressalva,
completava a lista dos defeitos:
com exceção de Juliana, a única pessoa forte do livro, as paixões dos
outros, para assim dizer negativas, não são feitas de força, como as paixões de
Balzac, são feitas de acumulações de fraquezas.
O livro de Eça, de que foram
impressos 3000 exemplares, não parece ter demorado mais do que algumas semanas
para estar acessível no Brasil. De qualquer forma, a fama de obscenidade
precedeu a chegada do volume, e já parecia instalada poucos dias depois do
artigo de Ramalho.
De fato, em 6 de abril, na primeira
edição de um novo periódico ilustrado, intitulado O Besouro, uma piada
expunha o ponto-chave da recepção do livro:
Encarecendo o merecimento do romance O Primo Basílio, de Eça de
Queirós, dizia anteontem no ponto dos bondes um cavalheiro a uma dama:
– V. Exa não faz uma idéia! Que verdade, que estudo e que observação
tem O Primo Basílio! Tudo aquilo são cenas que podem um dia acontecer
entre mim e V. Exa.
Estava dada a partida para o que
seria uma polêmica de grande repercussão.
Na seqüência, a Gazeta
publica, em 12 de abril, um texto assinado por “L.”, pseudônimo do diretor do
jornal, Ferreira de Araújo, que ressalta, como Ramalho, as qualidades do estilo
de Eça e repisa a questão moral.
No que diz respeito às personagens,
Ferreira de Araújo não vê nelas nenhuma inconsistência. Pelo contrário, entende
que, se há algum problema na sua construção, é o da excessiva consistência, que
tende a transformá-las em tipos, ou, como também diz, em sínteses
generalizadoras: “escolheu – escreve –, dentre todas as criadas, as
qualidades com que devia criar a sua”.
O problema central do romance, para
Ferreira de Araújo, é o valor educativo. A exibição do vício, da depravação não
lhe parece a melhor estratégia para a reforma dos costumes:
que a sociedade precisa modificar-se, ela própria o sabe; mas o que ela
não deseja nem quer é que se ensine a toda ela o que só alguns dos seus
miseráveis membros sabem; membros que se não regeneram nem melhoram, e que
serão com certeza os mais assíduos leitores das páginas do Paraíso.
Daí decorre a condenação do efeito
de objetividade narrativa, característico da escola, que, ao invés de excluir o
feio e o desagradável, busca-o com predileção. Por conta dessa característica,
Araújo restringe o valor moral do livro à segunda parte, na qual a “moralidade
da fábula” lhe parece positiva:
as torturas que o adultério faz sofrer à esposa (...) são escritas com
mão de mestre, e seria um salutar remédio que devia ser aplicado a todas, que
estão a pique de perder-se.
Sua apreciação do caráter do
romance é, por isso mesmo, muito matizada, conduzindo ao flerte com a censura:
este livro devia ser receitado, na sua última parte, como preservativo;
mas devia ser como os remédios aplicados na ocasião própria, e não a torto e a
direito.
E termina por uma observação
irônica, que será depois retomada e celebrizada por Machado de Assis:
Haverá muitos que julgarão que a obra do Sr. Eça de Queirós não é um
serviço feito às que ainda se não deixaram submergir no charco do adultério,
mas uma lição às que já o fizeram; quererão ver no que produz a catástrofe, no
que rasga o véu que encobre os olhos de Jorge, nessa carta que chega a
propósito para a resolução da crise dramática, um conselho, um aviso, uma
presunção às incautas, e tiram, como moralidade, a conveniência que as mulheres
casadas têm em queimar as cartas dos amantes, para que as criadas não as
encontrem no cesto dos papéis velhos.
No dia seguinte ao da publicação do
texto de Ferreira de Araújo, O Besouro traz uma charge de Rafael Bordalo
Pinheiro, na qual se vê um comendador velhote, casado com uma jovem, que lhe
apresenta um janota.
O diálogo é simples:
Madame *** – O primo Quincas que
volta de Paris.
O comendador (à parte) mau...
mau...
Três dias
depois, em 16 de abril, é publicado em O Cruzeiro, sob o pseudônimo
Eleazar, o primeiro artigo de Machado de Assis: “Literatura realista – O
Primo Basílio, romance do Sr. Eça de Queirós”.
Nesse texto, tão conhecido que
dispensa comentários detidos, Machado começa por criticar o livro anterior de
Eça, O Crime do Padre Amaro, por tratar o “escuso” e o “torpe”
com um “carinho minucioso”, por relacioná-los com uma “exação de inventário”.[3] E
continua pela afirmação de que O Primo Basílio é uma reincidência devida
ao sucesso do primeiro.
Na seqüência desenvolve a crítica
em três flancos.
O primeiro é propriamente estético:
a inconsistência moral da personagem Luísa, que seria apenas um títere, sem
vontade nem organicidade.
Desse primeiro, decorreria o
segundo defeito, que é a ausência de ensinamento ou mesmo tese. Retomando, a
esse propósito, o artigo de Ferreira de Araújo, escreve:
Se o autor, visto que o Realismo também inculca vocação social e
apostólica, intentou dar no seu romance algum ensinamento ou demonstrar com ele
alguma tese, força é confessar que o não conseguiu, a menos de supor que a tese
ou ensinamento seja isto: – A boa escolha dos fâmulos é uma condição de paz no
adultério.
Por fim, o
terceiro defeito, o ponto que Machado qualifica de “grave”, “gravíssimo”: a
imoralidade do romance, que chega “ao extremo de correr o reposteiro conjugal”,
de talhar “as suas mulheres pelos aspectos e trejeitos da concupiscência”, de
ressaltar a sensualidade. O aspecto impudico do livro é o ponto central da
crítica de Eleazar: “o tom é o espetáculo dos ardores, exigências e perversões
físicas”, diz ele.
Evidentemente
chocado, termina por um alarma: se Eça de Queirós continuar a escrever outros
livros como O Primo,
o
Realismo na nossa língua será estrangulado no berço; e a arte pura,
apropriando-se do que ele contiver aproveitável (porque o há, quando não se
despenha no excessivo, no tedioso, no obsceno, e até no ridículo), a arte pura,
digo eu, voltará a beber aquelas águas sadias d’O monge de Cister, d’O
arco de Sant’Ana e d’O Guarani.
O “espetáculo dos ardores”,
denunciado por Machado, tem um ponto alto, que forneceu assunto a muitas
charges e piadas. Trata-se de uma cena no “Paraíso”, no capítulo VII. É esta:
[Basílio] ajoelhou-se, tomou-lhe os pezinhos entre as mãos, beijou-lhos;
depois, dizendo muito mal das ligas ‘tão feias, com fechos de metal’,
beijou-lhe respeitosamente os joelhos; e então fez-lhe baixinho um pedido. Ela
corou, sorriu, dizia: não! Não! – E quando saiu do seu delírio tapou o rosto
com as mãos, toda escarlate, murmurou repreensivamente.
–
Oh Basílio!
Ele
torcia o bigode, muito satisfeito. Ensinara-lhe uma sensação nova: tinha-a na
mão!
Por conta dessa cena, a expressão
“sensações novas” invadiu a mídia carioca.
No dia 20 de abril, O Besouro publica
uma historieta assinada por certo Dr. Calado. Basílio vai para o Paraíso e lá
se encontra com Pio IX (que morreu em fevereiro daquele ano de 1878 e se
notabilizou, além do seu reacionarismo, por ter proclamado o dogma da Imaculada
Conceição).
Perfumado, Basílio ataca S. Pedro,
que desmaia numa nuvem. Quando S. Pedro acorda, encontra Basílio cofiando os
bigodes, como na cena famosa com Luísa. Basílio lhe diz que o desmaio foi
causado pelo “perfume de Lubin”. E S. Pedro retruca:
Meu
querido Basílio, [...]! Tens-me na mão! Ensinaste-me uma sensação nova! [...]
No desenlace, Basílio foge do céu ao
se ver ameaçado, por Pio IX, de ter de mostrar a sensação nova a todo o Sacro
Colégio...
Nesse mesmo dia 20 de abril, a Gazeta
traz mais um texto sério que se ocupa do romance, assinado por Henrique
Chaves.
Esse homem, hoje esquecido, foi
assunto de uma crônica notável de Machado, em 1893, em O Álbum, na qual
é descrito como “o avesso do medalhão”.
Chaves contesta, uma por uma, as
críticas feitas por Machado/Eleazar. Seu argumento básico é que “Eleazar é
evidentemente adverso à escola a que se filiou o autor do Crime do Padre
Amaro, e necessariamente por isso é obrigado a combater a causa e o efeito,
a escola e o livro”. E termina por retomar, a favor da nova escola, a esperança
de continuidade da herança romântica de Machado:
É nossa crença também que a herança de Garrett se transmitirá às mãos da
geração vindoura; porém o que não podemos também deixar de acreditar é que o
tempo há de forçosamente ir deixando os indubitáveis vestígios da sua
influência.
Podem os que não aceitam o realismo formar as colunas cerradas da sua resistência, esta será inútil porque as colunas sucumbirão ao peso do grande colosso que se chama simplesmente a verdade.
Podem os que não aceitam o realismo formar as colunas cerradas da sua resistência, esta será inútil porque as colunas sucumbirão ao peso do grande colosso que se chama simplesmente a verdade.
No dia 23 de abril, Luís de Andrade
assina, na Gazeta, a única ratificação de um dos pontos da crítica de
Ramalho Ortigão, concordando em que Basílio era um caráter improvável, pois,
sendo um canalha, jamais poderia ter enriquecido no comércio...
No dia seguinte, 24 de abril, o
médico Ataliba Gomensoro, sob o pseudônimo de Amenophis-Effendi, retoma e
desenvolve os argumentos anti-Eleazar de Henrique Chaves, situando Machado no
campo romântico e conservador:
o mundo caminha, e se alguém houvesse que aproximadamente escrevesse um
romance como o Monge de Cister não seria esse livro tão apreciado como
antes, porque já não estaria com a época, perfeitamente caracterizada.
Já então O Primo Basílio era
o assunto por excelência da imprensa do dia. E o recém-fundado O Besouro aproveitava
a onda.
No dia 27 de abril, o periódico
traz nada menos do que 5 trabalhos centrados na polêmica do realismo. Dois dos
quais trazem referências diretas a Machado de Assis.
O primeiro é um poema dedicado “Ao
L. da ‘Gazeta’”, isto é, a Ferreira de Araújo.
O poema se intitula “As botas de
Eleazar” e consiste no achincalhe de um apólogo publicado por Machado em 23 de
abril, em O Cruzeiro, intitulado “Filosofia de um par de botas”.[4]
Na versão do Besouro,
ressalta o ridículo da situação: o escritor, após um almoço excessivo, não
encontra maior objeto para o seu “estilo ardente” do que as botas velhas “tão
rotas! / batidas de vento e mar!”. O quadro é cômico pela desproporção entre o
estilo atribuído a Machado e os objetos do seu texto, que aparecem como uma
versão diminuída do gosto romântico por ruínas.[5]
O segundo é uma charge de Bordalo
Pinheiro, intitulada “Literalogia”.
Sob esse título, lê-se que
a cena é o “Casamento do Comendador Mota Coqueiro e de Iaiá Garcia”. No
desenho, uma emotiva e lânguida Iaiá revira o olho para Basílio, que surge
janota, com olhar safado. O texto da charge diz:
No momento em que Iaiá Garcia e o Sr. Mota Coqueiro recebem a voz,
dada pelo bojudo medianeiro dos idealismos, cai, como um raio junto aos
cônjuges, o Primo Basílio que, tendo esgotado em sensações novas
toda a borracha do Paraguai, volta a explorar a borracha do Pará esperando
igual êxito. Ao ver, porém, Iaiá Garcia casando por conveniência com Mota
Coqueiro, homem que apenas se prende às sensações do seu negócio,
embeve-se [sic] no tranqüilo olhar cor de rosa onde se refletem os azulados
raios da argêntea lua; e suspenso em êxtase das áureas e vastas madeixas cor de
cenoura da poética Iaiá, atira para trás das costas a borracha do Pará e
diz: – Estava transviado! Estou confundido. – Esta Iaiá é quem me vai dar
sensações novas! Olaré!
A alusão a Machado é clara no
título e sua caracterização literária na paródia da linguagem romântica em que
a legenda é vazada. O “gancho” da charge é um dado temporal: a coincidência
entre a publicação em folhetins de Iaiá Garcia, cujo último fascículo
saiu em O Cruzeiro no dia 02 de março, e o lançamento da edição impressa
em volume na mesma época em que saía o Primo Basílio.[6]
A alegoria se baseia nisso:
exatamente no momento em que Iaiá se casa no final do romance romântico, no
qual é enaltecido o sacrifício de amor, chega à arena literária brasileira,
fulminante, o tema do adultério e da sensualidade obscena. A distorção da cena
do casamento, que aparece como conveniência, permite juntar de modo econômico
os dois modelos de casamento que convivem no romance machadiano.
Do ponto de vista literário, a
maior crueldade é a associação do romantismo com o interesse conservador,
representado no padre, “o bojudo medianeiro dos idealismos”, impotente para
impor o velho decoro e conjurar a presença da componente moderna que vinha colorir
o tema, com a exibição e atração das novas sensações adulterinas.
Além das referências já
localizadas, deve haver ainda muitos textos por descobrir, pois no dia seguinte
à charge de O Besouro, uma crônica da Gazeta registra que “têm
notado os malignos que foi acabar a febre amarela e logo surgir o basilismo”.
A polêmica séria, por sua vez,
continua paralela ao alarido de escândalo da imprensa, e tem outro grande
momento dois dias depois dessa nota, em 30 de abril, quando Machado de Assis
responde, sempre em O Cruzeiro, às ressalvas de Gomensoro e Chaves.
Seu texto se concentra em duas
frentes de combate: a crítica ao seu reparo sobre a consistência moral de Luísa
e sobre o recurso à carta roubada como defeito do romance; a acusação de
moralismo estreito, que lhe apresentara Gomensoro, ao mencionar o erotismo do Cântico
dos cânticos de Salomão. Nos dois casos, Machado se defende por meio da
intensificação das razões que já apresentara no texto anterior. Sobre o remorso
de Luísa, que lhe fora trazido como contra-argumento, insiste em que ele “não é
a vergonha da consciência, é a vergonha dos sentidos”. Já sobre o
contra-exemplo do Cântico dos cânticos, escreve:
ou recebeis o livro, como deve fazer um católico, isto é, em seu sentido
místico e superior, e em tal caso não podeis chamar-lhe erótico; ou só o
recebeis no sentido literário, e então nem é poesia, nem é de Salomão; é drama
e de autor anônimo.
Por fim, insiste no problema da imoralidade do romance:
Se eu tivesse de julgar o livro pelo lado da influência moral, diria que,
qualquer que seja o ensinamento, se algum tem, qualquer que seja a extensão da
catástrofe, uma e outra coisa são inteiramente destruídas pela viva pintura dos
fatos viciosos: essa pintura, esse aroma de alcova, essa descrição minuciosa,
quase técnica, das relações adúlteras, eis o mal. A castidade inadvertida que
ler o livro chegará à última página, sem fechá-lo, e tornará atrás para reler
outras.
Machado ainda voltará ao assunto.
Mas até que volte, dia após dia, O Primo permanecerá no centro das
atenções literárias, com novas apreciações críticas e dando ensejo a muitas
alusões marotas. Em 3 de maio, Amenophis Effendi responde ao segundo artigo de
Eleazar. No dia seguinte, 4 de maio, é a vez de O Besouro registrar a
“epidemia de basilismo”. Da qual, diga-se, o periódico é um dos principais
disseminadores.
Do ponto de vista dos rumos futuros
da literatura brasileira é notável que, alguns dias depois, em 8 de maio, O
Primo vá aparecer como “gancho” jornalístico para uma nova frente de
polêmica sobre o realismo, agora no campo da poesia. Trata-se da “Guerra
do Parnaso”, um episódio importante, embora pouco referido, que passou a
integrar a história literária recente quando Bandeira publicou, em 1938, o
volume da Antologia dos poetas brasileiros dedicado à “Poesia da fase
parnasiana”.[7]
Travada majoritariamente nas
páginas do Diário do Rio de Janeiro, a Guerra, que se estendeu depois a
outros órgãos da imprensa carioca, inicia-se com este poema:
Aos
vates da Paulicéia
I
Poetas da Paulicéia,
A musa da Nova-Idéia
Tem tomado surra feia.
Que praga!
Se lhe não trazeis auxilio,
A escola que fez Basílio
E que baniu o idílio
Naufraga.
II
Os amigos da realeza
Têm dado bordoada tesa
Na musa da Marselhesa
Sem pena!
Poeta dos Devaneios!
Chegai-vos, sem mais rodeios,
Para o circo dos torneios,
À arena!
[...]
Organizavam-se na poesia também, a
partir daqui, os campos da batalha: realistas de um lado, românticos de outro.
E Machado de Assis, na época, segundo a percepção dos contemporâneos, militava
nas hostes católicas, conservadoras e românticas.
Por isso mesmo, era objeto das
sátiras dos defensores da Idéia Nova, que escreviam em O Besouro, no
qual, em 11 de maio, outra obra sua é satirizada, num poema intitulado “Depois
da Missa” e assinado por “O Mateus Aguiar”.
O objeto é agora um diálogo em
versos, intitulado “Antes da missa”, que Machado publicara uma semana antes,
sempre n’O Cruzeiro.[8]
Trata-se de um diálogo de duas senhoras sobre as futilidades da sua vida
pessoal e social, no qual reponta, apenas ao fim e muito indiretamente, o tema
da insatisfação com o casamento.
Num momento em que se
apresenta como grande questão literária a consistência ou inconsistência da
personagem Luísa, e no qual os jornais debatem com escândalo a linguagem
despudorada de Eça, a peça machadiana, vazada em alexandrinos rimados e de
andamento duro, que retiram naturalidade ao diálogo, deixa-se facilmente
reduzir a cena galante e irrelevante. As tímidas insinuações finais, por sua
vez, fornecem o alimento da sátira, cujo teor é já indicado pela inversão
temporal do título, fazendo de Eleazar um beato, numa alusão ao fato de O
Cruzeiro ter perfil católico.
O poema começa, faceto, com uma
referência direta aos dois artigos de Machado sobre O primo Basílio:
Depois daquele par
Eleazar
Faz tudo agora aos pares:
Fez as botas – fez as damas
–
Umas coisas singulares.
E prossegue, identificando a escola
do autor, e glosando o tema do duplo:
Qualquer dia Eleazar
Deita
um par
De
dramas
Bem românticos e iguais:
Uns dramas duma Francisca
Com duas mães e dois pais.
Na última estrofe, desenvolve-se o
tema apenas insinuado ao final da cena machadiana, o da infidelidade conjugal.
E Eleazar
Que, depois daquele par
De botas tão singulares,
Tão bem risca e tanto à risca,
Enredando tudo aos pares,
Eleazar,
É capaz de dar
Um
par
De maridos à Francisca.
A picada da sátira, claro, reside
na utilização sardônica da palavra “marido” no plural, que se insinua como uma
adaptação do tema do adultério ao suposto universo pudibundo do autor.
Também nas páginas do Diário do
Rio de Janeiro, onde corre solta a “guerra do Parnaso”, Machado vem
identificado, num poema publicado no mesmo dia 11, entre os “da velha escola”:
II
Bardos
da velha escola, a mim vossos perdões,
Vossas desculpas, se
Ao
sebo fui vender hoje Revelações,
Livro que até nem li.
Se
não tenho na estante a triste Nebulosa,[9]
As Falenas do Assis...[10]
Passei
pelo livreiro; e a musa lacrimosa
Vendiam-me; não quis.
A maior parte dos versos da Guerra
tem interesse restrito. Mas é digno de registro um poema no qual a própria
Guerra passa a ser objeto de piada, porque nele comparecem novamente em
oposição o primo Basílio, já quase tornado substantivo comum, e Iaiá Garcia:
NO
MEU BAIRRO
Um
pálido Basílio, um sacudido moço,
Ao
lado de uma bela, esplêndida conquista,
Fazia
tilintar as chaves no seu bolso,
Enquanto
ela entre as mãos fechava abrindo o leque,
- Um quadro realista!
Ela ia começar a fase que era:
"Emprazo-
lhe..." quando ouviu-se perto
o grito do moleque:
- A Gazeta... O Diário... A Guerra do Parnaso!
A primeira disse então: Meu Deus!
Que significa!...
Só guerra e guerra só!... Uma
questão política?...
- Não, disse-lhe o Basílio. És a
melhor das tolas!...
Aquilo é simplesmente uma questão
de escolas
Poéticas... mais nada... O velho
romantismo
Entende inda viver a luz do
realismo...
O romantismo é isto: uns astros
invisíveis,
Uns anjos ideais... a divindade em
Cristo...
Os Pietros, as Iaiás... uns
tantos impossíveis,
Que vivem, que têm forma e que
ninguém os vê.
Agora o realismo... o realismo é
isto:
............................................................
E
O céu embriagava as solidões, em
torno,
A vinhos de luar esbranquiçado e
morno![11]
Machado ou as
suas obras, nesse conjunto de textos, acabará por ser sempre associado ao
romantismo, como se vê nestes versos, publicados uma semana mais tarde:
ROMÂNTICO
Ele
anda por toda a parte
A
namorar as Helenas
Por
isso frisa com arte
Aquelas
longas melenas.
Vive
a fitar as estrelas
Tem assim ares de empírico:
E
apaixona a todas elas
Por
ser... um poeta lírico.
[...]
(Lins d’Albuquerque)
Paralelamente, a campanha
antibasilista ganha corpo com a transposição do romance para o teatro. Assim, A
Lanterna, em 17 e 23 de maio, vai
condenar não só o romance, por ser um “escândalo, grosso, pesadão e indigesto”,
mas principalmente o fato de que esse “romance sujo” agora acabava por alastrar
a sua sujidade aos palcos, onde era muito mais acessível e podia, pois,
multiplicar o mal. Não a vou seguir aqui longamente, entretanto, porque
o seu interesse diminui muito, tanto do ponto de vista crítico, quanto do ponto
de vista literário. O único texto a destacar, sobre a adaptação ao palco, é o
que Machado assina, numa Nota Semanal de 7 de julho, na qual afirma que “os
realistas” continuam “na doce convicção de que a última palavra da estética é
suprimi-la” e escreve este julgamento sobre o que julga um nome tutelar da nova
escola:
Baudelaire “é um dos
feitiços da nova e nossa igreja; e, entretanto, sem desconhecer o belo talento
do poeta, ninguém em França o colocou ao pé dos grandes poetas; e toda a gente
continua a deliciar-se nas estrofes de Musset e a preferir L’Espoir em Dieu a
Charogne.”
Entretanto,
antes de dar por terminada a resenha crítica e o novidade da polêmica, é
preciso referir, ainda que brevemente, um texto que permaneceu desconhecido da
crítica.
Trata-se de um
longo artigo assinado por “Neotes” e intitulado “Um resposteiro ao Primo
Basílio – esboço crítico realista”. Foi publicado em duas partes, em 26 e
27 de maio, no Diário do Rio de Janeiro, onde também vibrava a Guerra do
Parnaso.
Em linhas
gerais, o texto resume com serenidade os pontos da polêmica anterior. Reconhece
como principal qualidade do livro o estilo do autor, a sua flexibilidade, a
frase envolvente e a modernidade da dicção e termina por apontar o caráter
dissolvente da leitura. Mas o faz de forma muito modalizada, sem julgamentos
peremptórios, indicando perceber a complexidade da construção do livro e,
especialmente, do caráter de Luísa.
Embora o artigo
termine ambiguamente por reclamar que Eça desse melhor uso ao seu enorme
talento do que incentivar a devassidão, instando-o a encontrar maneiras não de
denunciar a fraqueza da mulher, mas de contribuir para torná-la forte, a
verdade é que se trata de uma das apreciações mais compreensivas e abrangentes
do romance, dentre as publicadas naquele ano de 1878.
Traçada a
história das repercussões várias do livro de Eça, penso que é possível agora
especular – a partir do modo como Machado aparecia aos contemporâneos, naquele
final da década de 70, por ocasião do grande sucesso do livro de Eça de
Queirós, e a partir do sua aversão ao Realismo – sobre o que, na sua atividade
crítica posterior, poderá talvez ser visto, ao menos parcialmente, como
desenvolvimento e conseqüência das posições tomadas nesse momento.
Como disse há
pouco, uma vertente da batalha do realismo ficou quase esquecida, até ser
descrita, no final dos anos 30, por Manuel Bandeira, no prefácio à sua
antologia da poesia parnasiana. A leitura desse texto permitirá destacar o
ponto que me interessa, que é a maneira como, após transcrever, em três
páginas, trechos de poemas da “Guerra”, Bandeira marca a distinção entre a
Idéia Nova realista e o Parnasianismo, que é o foco da sua atenção.
Sua primeira providência é
esclarecer o sentido do qualificativo “do Parnaso”:
Não
se entenda aqui ‘Parnaso’ como sinônimo de Parnasianismo. A batalha chamou-se
do Parnaso porque os golpes se desfechavam em versos (aqui sempre incorretos,
na gramática e na metrificação, segundo os cânones parnasianos posteriores).[12]
Desvinculando desde logo o
‘realismo’ do ‘parnasianismo’, por conta da “incorreção” dos primeiros,
Bandeira prossegue informando que em 1878 “não se falava de Parnasianismo:
falava-se sempre e muito era de ‘Realismo’, ‘Nova Idéia’, ‘ciência’, ‘poesia
social’.” O termo “parnasianismo”, esclarece, só aparecerá em 1886.
Para o poeta modernista, a Guerra
do Parnaso é apenas um momento de passagem para o Parnasianismo. Ponto de
partida, ou, na melhor versão, Parnasianismo em estado larvar: “Nesse longo
evolver da Idéia Nova para as formas parnasianas o primeiro marco importante
foi, como já dissemos, as Fanfarras de Teófilo Dias.”.
Preocupado sobretudo com a forma do
verso,[13]
Bandeira reconhece na Idéia Nova e no Parnasianismo a base comum de afastamento
programático da atitude romântica. Mas a concentração no aspecto formal o
impede tanto de observar mais atentamente a poesia da nova geração, quanto de
anotar o papel ativo que teve Machado para que tal “evolver” se processasse.
De fato, ao longo do texto “A nova
geração” – publicado no ano seguinte à publicação do Primo Basílio – o
autor de Helena insistiria, pelo menos uma dúzia de vezes, na
“incorreção” dos versos realistas, preocupando-se também em apontar, nos novos
que não eram “realistas”, os ecos, as influências nocivas menos diretas da
escola.
Foi o que fez ao examinar o
primeiro livro de Alberto de Oliveira, as Canções românticas. Machado
muito claramente o distingue dos realistas, mas é ao perceber o que julga uma
influência do método de composição realista (o verso sobre os cães, no final de
Interior) que qualifica o realismo como a “estética do inventário”.[14]
Ora, Alberto de Oliveira, que
depois será considerado um dos grandes parnasianos, vinha de participar da “Guerra
do Parnaso”. Comentando, cinqüenta anos depois, o episódio, o poeta o vincula à
Questão Coimbrã, aparentemente incluindo-se nas hostes da Idéia Nova: “em 1865
e 1866 tinha-se manifestado em Portugal a ‘escola coimbrã’ com Teófilo Braga e
Quental e Vieira de Castro que tiveram alguma influência sobre nós”.[15]
Entretanto, Alberto de Oliveira,
assinando com o pseudônimo “Lírio Branco”, cerrou fileiras nas hostes
românticas. Em 22 de maio, vemo-lo publicar um longo poema no qual celebra as
“castas Julietas”, condena “a malta sem pudor que se alevanta agora”, bem como
os que parecem querer levar a sua doce companheira, a musa romântica, às chamas
da fogueira, em nome “da doutrina imoral, do torpe realismo”.
A partir da crítica de Machado,
Alberto completará a sua evolução para a forma correta, reforçando os traços de
bom gosto que o autor de Helena nele descobrira.
Evolução que, segundo o próprio
Machado, já estará quase terminada em 1884. É
que diz no seu prefácio a Meridionais, rememorando a crítica de 79:
“os versos do nosso poeta são trabalhados com perfeição”.[16]
Mas na continuação do texto, adverte: “os defeitos, que os há, não são obra do
descuido (...) Nascem, – ora de um momento não propício, – ora do requinte mesmo do lavor”. Ou seja, é
defeito tanto a qualidade da inspiração, quanto a atenção excessiva à forma que
vem em seu prejuízo (”o muito mimo empece a planta”, diz Machado).
O que fica do livro de Alberto, que
depois será uma das balizas do Parnasianismo triunfante – e, dos três corifeus,
o que apresenta hoje menor interesse de leitura – é, para Machado, a medida
justa, o equilíbrio entre a espontaneidade e o lavor formal: “a troco de umas
partes laboriosas, acabadas demais, ficam as que o foram a ponto, e fica
principalmente o costume, o respeito da arte, o culto do estilo”. E é assim que
o autor de Memórias Póstumas conclui a sua apreciação: “Se alguma vez, e
rara, a ação descrita parecer que desmente da estrita verdade, ou não trouxer
toda a nitidez precisa, podeis descontar essa lacuna na impressão geral do
livro, que ainda vos fica muito: – fica-vos um largo saldo de artista e de
poeta, – poeta e artista dos melhores da atual geração”.
Na mesma direção ia já o seu prefácio ao livro
de Francisco de Castro, datado de 4 de agosto de 1878, ainda no rescaldo da
polêmica sobre O Primo. Registra aí Machado que a nova geração “hesita
entre o ideal de ontem e uma nova aspiração”. A recomendação de Machado é a
mesma que fizera a Eça de Queirós: evitar a quebra de continuidade, retomar a
linha sadia dos clássicos da língua, ameaçada pela artificialidade e pela moda
naturalista: “Citei dois mestres [Basílio da Gama e Gonçalves Dias]; poderia
citar mais de um talento original e cedo extinto, a fim de lembrar à recente
geração, que qualquer que seja o caminho da nova poesia, convém não perder de
vista o que há de essencial e eterno nessa expressão da alma humana.”[17]
É também a direção seguida em 1882,
no prefácio às Sinfonias, de Raimundo Correia, no qual valoriza os
“Perfis românticos” e condena a parte do livro que é “militante”, na qual o
autor exibe “opiniões radicais” e se mostra “republicano e revolucionário”,
terminando por valorizar a forma esmerada e a emoção lírica.
Esse conjunto de textos de Machado,
especialmente o ensaio de 1879 sobre “a nova geração”, será a base mais comum
de elaboração dos padrões de gosto e de valor que orientarão a historiografia
literária imediatamente subseqüente. E das suas eleições canônicas, como a
trindade parnasiana formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia e Olavo
Bilac.
O Parnasianismo, substituindo-se à
conotação sempre escandalosa que a palavra “realismo” terá no final do século
XIX, se deixará descrever como poesia pautada pelo bom senso e pelo bom gosto,
caracterizada pela perfeição rígida da forma e obcecada pela correção
lingüística de sabor didático e ostensivamente arcaizante, bem como pela
intenção edificante. Do antigo apelo “realista” pouco restará, exceto os
quadros altamente erotizados da obra de Bilac. Da designação, em poesia, quase
nenhum rastro.
No que diz respeito à denominação,
apenas tardiamente será redescrito o período de modo a incluir nele uma
vertente “realista”. Isso ocorreu, pela primeira vez de forma significativa,
com Péricles Eugênio da Silva Ramos, no Panorama da poesia brasileira, de
1959, e em “A renovação parnasiana”, capítulo que escreveu para a História
da literatura no Brasil, na mesma época.[18]
Até então, o consenso era a análise
de José Veríssimo, cuja História estava em 3a edição (a
primeira é de 1916). Utilizando, em sentido amplo, a palavra “naturalismo” e
nela absorvendo o que, no tempo de Machado, se chamava “realismo”, Veríssimo
postula que “não houve no Brasil, como não houve em parte alguma, poesia a que
se possa chamar de naturalista no mesmo sentido em que se fala de romance, e
ainda de teatro, naturalista”. A razão, acredita, “é que não existe poesia sem
certa dose de idealismo, incompatível com tal naturalismo”. Daí que conclua:
“Ao feitio poético que no Brasil correspondeu ao naturalismo no romance (...)
chamou-se parnasianismo. Naturalismo e
parnasianismo são ambos filhos daquele movimento”.[19]
Disso resultam duas conseqüências. A primeira é esta: “enganavam-se
redondamente, como ao tempo lhes mostrou Machado de Assis, os imitadores
indígenas de Baudelaire que nas Fleurs du Mal buscavam justificação do
seu realismo ou naturalismo. E a sua inteligência os condenou à imitação pueril
e falha”. A segunda é fixar o Parnasianismo, ao menos na parte em que lhe
reconhecia valor, como resultado do influxo de cuidado formal e da contenção
lírica sobre a inspiração romântica, “tão consoante com a nossa índole
literária”. Inspiração essa que seria claramente visível em Alberto de
Oliveira, “que viria a ser o mais típico dos nossos parnasianos”, e em Olavo
Bilac, cujas Poesias seriam “o mais acabado exemplar do nosso
parnasianismo”.[20]
Péricles
Eugênio da Silva Ramos, embora também se mantenha na esteira do artigo de
Machado sobre “a nova geração”, esforça-se para definir a poesia realista
segundo o tema e a atitude do poeta, e em aprofundar a descrição,
classificando-a em vários veios temáticos. Distingue assim primeiramente a
vertente do realismo urbano, no qual “a estética do inventário” seria completa,
e que se caracterizaria pelo veio sensual: “a linha sensualista do Realismo brasileiro,
isto é, a linha de Carvalho Jr e Teófilo Dias, explica ainda certas notas do
nosso Parnasianismo, como a ‘Satânia’ ou ‘De Volta do Baile’ de Bilac, e não se
veria esgotada dentro de um decênio: as Canções da Decadência de
Medeiros e Albuquerque, por exemplo, compostas entre 1883 e 1887, ostentam um
realismo sexual cruamente exposto.”[21]
Define, a seguir, outra vertente realista, a que denomina realismo agreste, e
na qual localiza Afonso Celso e Bernardino Lopes. Os demais autores,
costumeiramente associados ou à designação “realistas” ou à de “parnasianos”,
Silva Ramos os qualifica antes de “decadentes”, identificando neles, como
características, o ar “maladif”, o satanismo, a sensualidade sádica, o intuito
de profanar e escandalizar e o acentuado espírito de revolta. Seriam eles
Teófilo Dias, Carvalho Júnior, Fontoura Xavier e Venceslau de Queiroz.
Com essa operação, Silva Ramos
consegue depurar, sem apagar de todo o veio realista, o conceito que lhe
interessa de fato, que é o de Parnasianismo. E a forma como o faz é
significativa: reconhecendo o papel determinante de Machado no estabelecimento
da nova escola, entendida como um novo veio classicista, que recusa os exageros
realistas ou decadentes.
Machado aparece duas vezes, com
papel decisivo, na história que Silva Ramos traça da conversão do Realismo em
Parnasianismo. Primeiro como crítico: os “pontos da doutrina estética de
Machado [...] – diz ele – viriam a ser totalmente acatados, constituindo mesmo
o dorso da doutrina formal parnasiana”.[22]
Depois, como poeta que fixou os traços da nova escola em Ocidentais.
O que mais interessa, dentro do
foco desta comunicação, porém, é o duplo movimento que parece ter feito fortuna
na historiografia subseqüente. Por um lado, diminuiu-se o alcance e a
importância do que foi a poesia indisciplinada, escandalosa e incorreta,
denominada “realista” ou, agora, “decadente”. Por outro, descreveu-se o
Parnasianismo como sendo uma opção de forma e de língua, pautada pelo ideal de
equilíbrio que se deixa recobrir com a palavra “clássico”.
Não deveria surpreender, portanto,
que Péricles Eugênio da Silva Ramos acabasse atribuindo, por intermédio de
Machado, um papel absolutamente central a Antonio Feliciano de Castilho na
definição dos rumos da poesia brasileira do final do século XIX.
Castilho, na sua leitura, é a
referência principal para a constituição da poesia de Machado de Assis e, por
extensão, da poesia parnasiana brasileira; e é com desassombro que atribui ao Tratado
de metrificação portuguesa, publicado em 1851, a força principal que operou
a conversão do Romantismo, ainda em vigor no primeiro Machado poeta, para o
Parnasianismo, bem como a substituição geral do realismo indisciplinado,
desequilibrado e incorreto pelo Parnasianismo sólido e sóbrio.
Essa mediação pareceu e parece
historicamente plausível. Tanto que vai
reaparecer numa das mais conhecidas sínteses contemporâneas, a História
concisa da literatura brasileira, de Alfredo Bosi, publicada em 1970.
Assim:
O que, entretanto, sela a constância do parnasiano em Alberto de Oliveira
é a fidelidade a certas leis métricas que a leitura de Castilho (Tratado de
versificação [sic]) e dos franceses mais rígidos como Banville e Heredia
pusera em voga e os conselhos acadêmicos de Machado de Assis tinham vivamente
estimulado.[23]
O papel conservador de Machado, no
que diz respeito aos rumos da poesia brasileira do final do XIX, seja como
poeta, seja como crítico, está ainda por ser conciliado com a sua apresentação
como autor “realista”. Um “realista” que se opôs frontalmente, em todos os
campos, ao “realismo”.
Foram várias as formas de solução
desse impasse historiográfico.
A mais comum delas consiste
no escamoteamento da postura anti-realista de Machado nos anos de 1870 e 1880,
reconstruindo, para uso interno, uma oposição realismo/naturalismo, na qual
Machado ocuparia o primeiro pólo, que acaba sendo uma espécie de naturalismo
mitigado.
A segunda forma de resolver o
impasse é mais radical: consiste na simples retirada de Machado de Assis da
seqüência cronológica da narração histórica. É o caso de José Veríssimo, que
faz do capítulo sobre Machado o último do seu livro, procedimento que não terá
tido pouco peso no tom algo melancólico que domina uma história que tem assim o
seu fim, ou pelo menos o seu ápice, antes do tempo em que se dá a narração. E é
também o caso de Nelson Werneck Sodré, que trata de Machado no penúltimo
capítulo do seu alentado volume, sob a rubrica “interpretações do Brasil”, no
qual a obra de Machado é apresentada e avaliada, depois do Naturalismo e do Parnasianismo,
juntamente com as obras de Joaquim Nabuco, Lima Barreto e Euclides da Cunha.
A terceira é a empregada por
Alfredo Bosi, e consiste em dissolver a especificidade da poesia do próprio
Machado, sequer o listando entre os poetas no capítulo dedicado à poesia
parnasiana, e em radicar na “profundidade”
e “universalidade” da sua obra o seu caráter “realista”.
Finalmente, no encerrar dos anos de
1970 a militância anti-realista de Machado será historicamente situada, como um
eco da doutrinação da Revue des Deux Mondes, “para a qual Realismo,
democracia, plebe, materialismo, gíria, sujeira e socialismo eram parte de um
mesmo e detestável contínuo.” E também o seu apelo reacionário: “A norma é
antimoderna em toda a linha. A recusa da matéria baixa leva à procura do
assunto elevado, quer dizer expurgado das finalidades práticas da vida
contemporânea.”[24] As
frases são de Roberto Schwarz, que, dando uma volta à própria formulação, vai
propor a melhor e mais engenhosa maneira de solucionar o impasse historiográfico.
Nas suas palavras, “havia da parte de Machado uma intenção realista neste
anti-realismo conservador, se o considerarmos expressão de experiência e
ceticismo – o que não era na Europa, onde representava um recuo intelectual –
em face do cabimento das idéias liberais no Brasil”. E assim, por conta do que
denomina “inautenticidade do nosso processo cultural”, e por conta de as idéias
liberais estarem aqui “fora do lugar”, o anti-realismo se torna uma forma
surpreendente de realismo, ou adequação da forma ao real, por conta do mútuo
“atraso” e deslocamento.
Uma conjunção da primeira e da
terceira estratégias produz o senso comum que aflora tanto na cultura escolar
brasileira, quanto na maioria dos textos acadêmicos em que o período realista é
abordado. Mas é quarta estratégia a que mais frutos produz no terreno da
academia.
Indepentemente do que possa ser,
afinal, o “realismo” da prosa de Machado, no que diz respeito à sua poesia e à
sua ação para a consolidação de um determinado tipo de poesia a que se chamou
aqui “parnasianismo” o quadro não deixa de ser curioso. Numa visada geral, se
tivéssemos de decidir quem terá vencido a “Guerra do Parnaso”, que terá sido a
nossa Questão Coimbrã, seria difícil fugir a esta conclusão: o romantismo de
forte sabor classicista, cujo modelo é Antonio Feliciano de Castilho, a quem
Machado denominava, em 1875, “poeta egrégio”, “mestre da língua” e “príncipe da
forma”.[25]
De modo que, se não na história do romance, ao menos na história da poesia
brasileira, o realismo parece ter sido mesmo apenas uma breve irrupção, depois
da qual a tradição foi retomada, como queria Machado em 1878.
Uma descrição benévola do que foi a
poesia brasileira do século XIX poderia celebrar uma linha direta dos Primeiros
cantos às Americanas, prosseguindo pelas Ocidentais e
desaguando na obra de Raimundo Correia ou Olavo Bilac, momentos de apogeu e de
triunfo do apostolado machadiano. Uma descrição menos favorável destacaria a
componente esteticamente reacionária do neoclassicismo de Castilho, perpetuada
na periferia do mundo da língua portuguesa, graças ao conservadorismo católico,
que dissolveu, aqui, o ímpeto reformador da poética realista.
A questão é, claro, ociosa. E é
ociosa também porque nenhuma dessas descrições vigorou até este momento. O alinhavamento
mais comum da história literária brasileira passa pelo caráter ostensivamente
conservador atribuído a toda a poesia pós-romântica, conseguido por meio da
subsunção das várias linhas realistas no Parnasianismo, do qual prudente e
tacitamente se exclui Machado. Prossegue com a apresentação dos deméritos do
academicismo parnasiano, continua pela invectiva à decadência do momento
epigônico “pré-moderno”, e termina com a narração heróica do advento
modernista, isto é, a sua celebração como momento de resolução de impasses e de
inauguração de uma nova era de autonomia e maioridade nacional, numa linha
evolutiva na qual Machado é o momento anterior mais alto e mais conseqüente.
A forma como Machado foi recuperado
para o “realismo”, para a “brasilidade” e para a “modernidade modernista” por
uma série de operações críticas, e a maneira como a sua crítica ao romance de
Eça passou a ser entendida como a crítica ponderada de um “realista” a um
“naturalista” constituem o capítulo seguinte desta história, que se desencadeou
com a publicação do romance do autor português.
Como também pertence a um outro o
desenvolvimento de dois palpites, para transformá-los em hipóteses de trabalho.
O primeiro é que Machado de fato viveu em 1878 um impasse e uma crise, mas um
impasse e uma crise propriamente literários: como abandonar a linha romântica
desenhada de Ressurreição (1872) até Iaiá Garcia sem adotar a
forma e o estilo do romance realista? A segunda é que Machado teria de fato
posto em prática o que reclamava no final da resenha de O Primo: voltou
ele mesmo a beber as águas de Garrett e Herculano (e até águas situadas mais
acima na corrente, como as de Sterne e De Maistre) para dar a volta em ficaria
assente a sua genialidade, com Memórias póstumas de Brás Cubas.
Mas, justamente por serem parte de
um próximo capítulo, já não cabem nesta comunicação, que aqui se encerra
contentando-se com ser uma contribuição à história da recepção do romance de
Eça no Brasil e de algum rebatimento da questão coimbrã nas letras brasileiras,
bem como uma breve especulação sobre o papel de Machado de Assis na definição
dos rumos da poesia pós-romântica, por meio do combate à veia baudelaireana ou
realista e da prescrição sistemática da correção métrica e do bom gosto de
sabor classicizante.
---------------------------------------------FIM------------------------------------------
Mais imagens curiosas:
O Besouro, 1 de junho
-------------------------------------------------------APÊNDICE--------------------------------------------------------------------
TABELA GERAL (MAS NÃO EXAUSTIVA) DAS PUBLICAÇÕES REFERIDAS NO TEXTO E OUTRAS, NÃO REFERIDAS MAS RELEVANTES PARA AFERIR O "BASILISMO"
DATA
|
ÓRGÃO
DE IMPRENSA
|
TÍTULO
|
AUTOR
|
ASSUNTO
|
25
mar
|
Gazeta de Notícias |
“Cartas
portuguesas”
|
Ramalho
Ortigão
|
Crítica ao romance
|
06 abr
|
O Besouro |
S/t
|
“A.
Praia”
|
“Tudo aquilo são cenas que podem
um dia acontecer entre mim e V. Exa.”
|
12
abr
|
Gazeta de Notícias |
“O
Primo Basílio”
|
“L.”
(Ferreira
de Araújo)
|
Crítica ao romance
|
13 abr
|
O Besouro |
“Depois
da leitura de OPB de Eça de Queirós”
|
Rafael
Bordalo
Pinheiro
|
Charge: o primo Quincas que volta
de Paris
|
16
abr
|
O Cruzeiro |
“Literatura
realista – O Primo Basílio, romance do Sr. Eça de Queirós – Porto – 1878”
|
“Eleazar”
(Machado
de Assis)
|
Crítica ao romance
|
20
abr
|
O
Besouro
Gazeta
de Notícias
|
“O que
fez o Primo Basílio no Paraíso”
“Ainda o Primo Basílio” |
“Dr.
Calado”
“S. Saraiva”
(Henrique Chaves)
|
Historieta.
Diálogo de Basílio com Pio IX e trocadilho com a ‘sensação nova’.
Discussão
do artigo de Eleazar.
|
23
abr
|
Gazeta
de Notícias
|
“Palestra”
|
Luís
de Andrade
|
Artigo com trecho dedicado à
crítica do romance
|
24
abr
|
Gazeta
de Notícias
|
“Eleazar
e Eça de Queirós – Um crítico do Primo Basílio”
|
“Amenophis-Effendi”
(Ataliba Lopes de
Gomensoro)
|
Discussão do artigo de Eleazar
|
27 abr
|
O
Besouro
|
“Literalogia – Casamento do Comendador Mota Coqueiro e
de Iaiá Garcia”
“Ao L.
da ‘Gazeta’
“Qual é
o maio defeito do ‘Primo Basílio’?”
“Aos
entusiastas do Primo Basílio”
“Aos
maldizentes do Primo Basílio”
|
Bordalo
Pinheiro
Jeremias
“Dr.
Calado”
“Um bom
guarda nacional”
“Um bom
pai de família”
|
Charge:
o Primo Basílio aparece no casamento de conveniência da Iaiá e diz que ela
lhe vai dar ‘sensações novas’
“As
botas de Eleazar”
Discussão
do romance e das críticas ao livro.
Poema
satírico.
Poema
satírico.
|
28 abr
|
Gazeta
de Notícias
|
“A
semana”
|
“F. de
M.”
|
Crônica: “o basilismo alastra por
toda parte”.
|
30
abr
|
O
Cruzeiro
|
Eleazar
|
2o artigo de Eleazar
(Machado de Assis)
|
|
03
maio
|
Gazeta
de Notícias
|
“Uma
das razões de um decreto – Ainda Eleazar”
|
“Amenophis-Effendi”
(Ataliba Lopes de
Gomensoro)
|
Resposta ao segundo artigo de
Eleazar.
|
04 maio
|
O
Besouro
|
Anúncio
de capa – homem lendo
“Eça de
Queirós”
“Zumbidos”
|
Bordalo
Pinheiro
“D.
Jaime”
|
Propaganda c/ ref. ao Primo
Homenagem: desenho de página inteira, com personagens do
romance.
Crônica:
“epidemia” de basilismo.
|
08 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso em Portugal” – Aos vates da Paulicéia
|
“Três
estrelas do Cruzeiro”
|
Poema à “escola que fez Basílio”
|
09 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso em Portugal” – Auto da fé
|
“Quatro
estrelas do cruzeiro”
|
Poema em louvor da “idéia-nova”
|
10 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” – Missiva a Lopes Trovão
|
“Veteranos do Romantismo”
|
Poema
|
11 maio
|
O
Besouro
Revista
Ilustrada
Diário
do RJ
|
“Depois
da missa”
s/t
“A
guerra do Parnaso” – “Em vão, ó musa...”
|
“O
Mateus Aguiar”
s/a
“Flor
de Lis”
|
Poema satírico contra Eleazar
Comentários ao anúncio da peça
Poema
|
12 maio
|
Diário
do RJ
|
“A guerra do Parnaso” –
Eu nunca me assinei
romântico...
|
“Seis
estrelas do Cruzeiro”
|
Poema em favor da “moderna idéia”:
“se não tenho na estate a triste Nebulosa, / As Falenas do Assis...
|
13 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” – Realista e romantismo
|
“Erckeman- Chatrian”
|
Poema pró-realismo
|
14 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” – D. Juan
|
Theophilo
Dias
|
|
15 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” – No meu bairro
|
Arthur
Barreiros
|
Poema: “Um pálido Basílio, um
sacudido moço...”
|
16 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” – Arredai! Arredai...
|
“Arnaldo
Colombo” (?)
|
Poema pró-realismo
|
17 maio
|
Diário
do RJ
A
lanterna
|
“A
questão do Parnaso” – Tu
“De
quinta a quarta”
|
V.
Magalhães
(Valentim
Magalhães)
“Ninguém”
|
Poema pró-realismo
Crítica à Gazeta por se ocupar tanto de O Primo
|
18 maio
|
O
Besouro
Diário
do RJ
|
“Teatrologia”
“já
está fora de moda”
“A
guerra do Parnaso” – Romântico
|
Bordalo
Lins D'Albuquerque
|
“O Primo Basílio nos
mostrará o que são sensações novas”.
comentário
Poema: “anda por toda a parte / A
namorar as Helenas”
|
19 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” – Velha romanesca em cena
|
“Prudhome”
|
Poema anti-romântico
|
20 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” –As três estrelas do Cruzeiro
|
“Castor e Pólux”
|
Sátira do romantismo
|
21 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
guerra do Parnaso” – Novo ideal não force...
|
“Ernestinho”
|
Sátira do realismo
|
22 maio
|
Diário
do RJ
|
“A
questão do Parnaso” – Musa romântica
|
“Lírio
Branco”
(Alberto de Oliveira)
|
Sátira da musa romântica
|
25 maio
|
Revista
Ilustrada
|
S/t
|
S/a
|
Comentário a mudanças no
comportamento de “Eleazar-o-jovem”, que parece correr o risco de tornar-se
republicano ou realista.
|
26
maio
|
Diário
do Rio de Janeiro
|
“Um
reposteiro ao Primo Basílio – esboço crítico-realista” – primeira
parte
|
“Neotes”
|
Artigo crítico sobre o romance.
|
27
maio
|
Diário
do Rio de Janeiro
|
“Um
reposteiro ao Primo Basílio – esboço crítico-realista” – conclusão
|
“Neotes”
|
|
01
junho
|
O Besouro
|
“A Luiz Furtado Coelho”
“A
Guerra no Parnaso”
“O
primo Basílio”
“À musa
realista”
“À musa
retumbante”
“À musa
romântica”
|
S/a
Pietro
Nervi
S/a
S/a
|
“só as almas fortemente temperadas
... resistem à torrente invasora do que se chama realismo”
Poema satírico, dirigido a Luiz de Campos,
“escravo do Junqueiro”.
Crítica à encenação da peça
Sátiras aos estilos
|
04
junho
|
Diário
do RJ
|
“Guerra do Parnaso” -
|
“Elias
da Fonseca” (Demerval da Fonseca?)
|
Poema pró-romântico.
|
08
junho
|
O
Besouro
|
“Leituras
só para homens”
Nota
sobre Eleazar e o calembourg
|
“Kit”
“Charbovary”
|
Refere o anúncio do Diário.
|
15
junho
|
O
Besouro
|
“Modelo
da escola realista”
“Modelo
da escola lírica”
|
“D.
Filho, o lírico”
“D.
Filho, o realista”
|
Sátira das polêmicas da Guerra do
Parnaso
|
06 jul
|
O
Besouro
|
“A nova
sensação (A propósito do ‘Primo Basílio’)”
|
Carvalho
Júnior
|
Soneto
|
18 jul
|
O
Besouro
|
“Ilmo.
Sr. Conservatório”
“No
rink – (Nova sensação)”
“O
Primo Basílio”
|
“Julião”
“K.
Marão”
s/a
|
Sobre a encenação de O Primo
Basílio.
Poema: “Um Basílio patinando...”
Crítica à peça.
|
26 ago
|
Diário
do RJ
|
“Vende-se”
|
S/a
|
Sátira do romantismo
|
02 set.
bro
|
Diário
do RJ
|
“Empresta-se”
|
“Richepin & Frank”
|
Sátira do realismo
|
[1] No dia 28 de fevereiro, segundo Guerra da
Cal; no dia 21, segundo o artigo de Ramalho Ortigão.
[2] A
respeito da recepção do romance na imprensa carioca, consulte-se o excelente
trabalho de Francisco Maciel Silveira, no Suplemento ao Dicionário de Eça de
Queirós (Lisboa: Editorial Caminho, 2000), nos verbetes “O Primo Basílio:
uma campanha alegre” e “O Primo Basílio: uma sensação nova na imprensa
carioca em 1878”. Este texto, que retoma
ambos os verbetes, pretende ser, no que diz respeito ao levantamento
documental, uma contribuição ao que neles veio já disposto, por meio da
inclusão, no quadro, principalmente dos textos da Guerra do Parnaso, do texto
de Neotes, todos do Diário do Rio de Janeiro.
[3] Em
outras ocasiões, ocupei-me especificamente desse texto: “Introdução” a O Primo Basílio. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001; “Eça e Machado: Críticas de
Ultramar”. Cult - Revista Brasileira
de Literatura, n. 38. São Paulo: setembro de 2000.
[4] Repr. in
Obra completa, p. 989.
[5] Esse apólogo relativamente insosso – curiosa
e, quanto a mim, inexplicavelmente – é apontado por Bosi como um dos indícios
da profunda mudança de rumos da obra machadiana, que se dará com Memórias
póstumas de Brás Cubas. Cf: Bosi, Alfredo. História concisa da
literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1975, p. 198.
[6] De fato,
no dia 4 de abril, um anúncio em O Cruzeiro trazia o seguinte texto:
“Iaiá Garcia por Machado de Assis – Este formoso romance, que tanta aceitação
obteve dos leitores do ‘Cruzeiro’ saiu agora à luz em um nítido volume de mais
de 300 páginas. Vende-se nesta tipografia, rua dos Ourives n. 51 e em casa do
Sr. ª J. Gomes Brandão, rua da Quitanda n. 90”.
[7]
Bandeira, Manuel. Poesia da fase parnasiana. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1996, [1a ed: 1938].
[8] Repr. in
Obra completa, p. 993. O pseudônimo que assina o poema é retirado do
diálogo. Trata-se de um sujeito que D. Laura diz ter sido espoliado pelo
próprio genro.
[9] Joaquim
Manuel de Macedo (1820-1882). A nebulosa, 1857.
[10] Falenas,
1870.
[11] Desde o
título é sensível aqui a presença de Cesário Verde, cujo “Num bairro moderno”
tinha sido publicado pouco antes, em O Cruzeiro, no dia 17 de abril de
1878.
[12]
Bandeira, Manuel. Antologia dos poetas brasileiros. Poesia da fase
parnasiana.Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996, p.7.
[13] Logo
após transcrever um poema, anota ironicamente: “assim escrevia, muito pouco
parnasianamente, Arnaldo Colombo, no dia 16 de maio etc”.
[14] “Não é
outra coisa o final do ‘Interior’, aqueles cães magros que ‘uivam tristemente
trotando o lamaçal’. Entre esse incidente e a ação interior não há nenhuma
relação de perspectiva; o incidente vem ali por uma preocupação de realismo;
tanto valera contar igualmente que a chuva desgrudava um cartaz ou que o vento
balouçava uma corda de andaime. O realismo não conhece relações necessárias,
nem acessórias, sua estética é o inventário. Dir-se-á, entretanto, que o Sr.
Alberto de Oliveira tende ao Realismo? De nenhuma maneira; dobra-se-lhe o
espírito momentaneamente, a uma ou outra brisa, mas retoma logo a atitude anterior.”
OC, p. 826.
[15]
Entrevista em Terra Roxa e outras Terras, setembro de 1926, p. 4.
[16] Obra
completa, p. 919 e 920.
[17] Obra
completa, p. 913-4. Sem dúvida que o ponto do conselho diz respeito à
questão brasileira, porque o componente essencial e eterno, por pressuposto,
existe em todas as literaturas, o que tornaria dispensável a citação dos nomes
dos poetas a continuar.
[18] Ramos,
Péricles E. S. Panorama da poesia brasileira. Parnasianismo. Riod e
Janeiro, Civilização Brasileira, 1959; Ramos, P. E. S. “A renovação
parnasiana”. In Coutinho, Afrânio (org.) A literatura no Brasil – Vol.
4, Era Realista – Era de Transição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986, 3a
ed. (1a ed.: 1955-1959); Do Barroco ao Modernismo – estudos da
poesia brasileira. São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1967.
[19]
Veríssimo, José. História da literatura brasileira. Rio de Janeiro:
Livraria José Olympio, 1969, 5a ed., p. 241 e 242.
[20] Op. cit., p. 243.
[21] “A
renovação parnasiana”. In A literatura no Brasil, cit., p. 99.
[22] Ibidem,
p. 111.
[24]
Schwarz, Roberto. Ao vencedor, as batatas. São Paulo: Duas Cidades,
1977, p. 65.
[25] “O
visconde de Castilho”. Texto publicad na Semana Ilustrada, em 4 de julho
de 1875.
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