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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Digital e analógico

 Nesta era digital, fico pensando que poderia ser chocante, na poesia, um movimento semelhante ao que se vê na música: um recuo, uma volta ao analógico. O caminho da música gravada foi do gramofone ao disco, do disco ao cd, do cd à forma puramente digital. Mas agora são os velhos LPs os objetos do desejo. Também no tocante ao equipamento de reprodução, parece que se impõe a superioridade da válvula iluminada em relação ao transístor opaco. Fico pensando no que poderia ser um equivalente em poesia. Tenho um amigo que cada vez mais escreve tudo à mão, abandonando o computador. Outro, mais comedido, reserva o computador para o trabalho. Poesia, só à mão e a lápis. Quem sabe um dia ainda veremos poesia autógrafa, reproduzida em xerox, ou - como nos tempos da poesia marginal – em mimeógrafo a álcool... Poderia interessante esse retorno. Seria um contraponto à tendência do momento em que mesmo o livro digital em edição de autor busca todas as formas da mercadoria, como capa, prefácios, créditos, ficha catalográfica e ISBN. E um contraponto à crescente perda de corporeidade do texto, agora reduzido a dígitos transmitidos por wi-fi.