Textos postados na lista de discussão haikai-l e uma homenagem.
Em meados dos anos de 1990, quando a internet ainda engatinhava, por sugestão de Edson Iura pedi ao serviço de computação da Unicamp que me permitisse sediar num dos computadores da instituição uma lista de discussão sobre haikai. 
Obtida a autorização, criamos a lista e ela floresceu. Em breve, tínhamos mais de uma centena de membros.
Edson guardou os arquivos todos e me enviou recentemente uma cópia deles. Mas como é homem de computadores enviou numa forma que não consegui ainda decifrar ou descompactar.
Encontrei, entretanto, agora há pouco este arquivo, que eu tinha em tempos postado na página que mantive por vários anos na Unicamp – e que depois terminei por desativar.
Vou postá-lo aqui não apenas porque os tópicos nele desenvolvidos ainda podem ter interesse, mas principalmente como homenagem ao meu companheiro de empreitada e debates, o Edson, cujo livro de ensaios sobre haicai, o "Cesto de Caquis", acaba de ganhar o Prêmio de Ensaio da Biblioteca Nacional.
Parabéns, Edson!
Obs.1: A lista haikai-l ainda existe, graças ao Edson, que a manteve quando outros compromissos impediram que eu continuasse.
Obs. 2: Os textos abaixo estão reproduzidos da forma como foram postados. Optei por essa solução para preservar a informalidade e o clima típicos da lista. Por isso, nem mesmo a grafia das palavras (adaptada aos terminais disponíveis quando foram postados) foi alterada ou corrigida.
Obs. 3: na minha página do Facebook dispus várias outras postagens, um mês depois desta publicação.
Índice:
    Métrica em haikai
    O carteiro, o poeta e o haikai
    Palpite sobre a questao do zen e do haikai
    E por falar em teoria...
    Haikai e sensação
Date: Sun, 16 Feb 1997 23:53:35 -0300 
   Sender: haikai-l@cesar.unicamp.br 
   From: Paulo Franchetti  
   Subject: Metrica em haikai 
   Prezados Amigos da Haikai-L: 
   De vez em quando, volta `a tona a questao da metrica na poesia 
   de haikai escrita em portugues. Assim, pensei que valeria talvez 
   a pena discutir mais um pouco esse assunto, ja' que ha' varios 
   assinantes novos da lista.. 
   O haikai escrito em portugues e, como todos sabem, uma 
   adaptacao de uma forma japonesa: o haiku. 
   Haiku e'  um termo recente, do final do seculo passado, criado 
   por Masaoka Shiki: vem da fusao de duas palavras HAIkai e 
   hokKU. Haikai e'  um termo adjetivo, que qualifica um tipo de 
   renga. Hokku significa aproximadamente \primeira estrofe\. 
   Haiku, portanto, designa uma estrofe composta nos moldes da 
   primeira estrofe de um haikai-renga.
   Disse acima que hokku significa \aproximadamente\ primeira 
   estrofe, porque a palavra estrofe tem muitos determinantes que 
   nem sempre podemos transferir diretamente para um segmento 
   de poema japones. Ja' aqui comecam os problemas: tanto 
   podemos compreender o hokku como uma estrofe, quanto 
   compreende-lo como um verso. Se pensamos que e'  uma 
   estrofe, entao diremos que e'  dividido em tres versos de medida 
   diferente: 5/7/5. Se pensamos que e'  um verso, entao diremos 
   que possui uma cesura na unidade 5, e outra na 12. e'  possivel 
   compreender de ambas as formas o hokku e os demais 
   segmentos de um renga. Espacialmente, como sabem, um 
   hokku ou haiku vem distribuido de acordo com as  
   conveniencias da composicao plastica, sendo disposicao comum 
   a que o apresenta em uma so' linha. 
   Mas o problema que nos interessa diz respeito `as unidades que 
   identificamos, quando dizermos que o hokku tem uma forma 5- 
   7-5. 
   5-7-5 o que? A resposta que talvez pareca logica e'  a resposta 
   errada: silabas. De fato, nao se trata de silabas, mas de 
   duracoes. `as vezes, a silaba e a duracao coincidem; `as vezes, 
   nao. Exemplos: Basho^ vale, em verso, tres unidades, porque o 
   \o\ final e'  longo. Hon, que quer dizer livro, vale duas unidades, 
   porque uma silaba nasal e'  longa. Nippon conta quatro 
   unidades (na transcricao, a consoante dobrada indica que a 
   silaba antecedente e'  longa, e o n final indica a nasalacao). 
   Portanto: a rigor e'  errado dizer que um haiku e'  um poema 
   composto de 3 versos, dos quais o primeiro e o terceiro tem 5 
   silabas e o do meio 7 silabas. 
   Como na tradicao portuguesa nao temos outro sistema que nao 
   o silabico-acentual, quando se tratou de adaptar o haiku `a 
   nossa lingua, decidiu-se por verte-lo na forma 5-7-5 silabas- 
   poeticas. (Nem todos, diga-se: Wenceslau de Moraes, o 
   maior japonista portugues de todos os tempos, verteu os haiku 
   em forma de quadra tradicional) Ora, uma silaba poetica nao 
   tem nada a ver com uma silaba gramatical, como sabemos, e a 
   sua contagem, menos ainda. Os seguintes versos de Bilac, 
   por exemplo,  tem 12 silabas poeticas, que se dividem assim: 
   Ven/tre/ nu,/ sei/os / nus,/ to/da/ nu/a,/ can/tan/do 
   Do es/mo/re/cer/ da/ tar/de ao/ res/sur/gir/ do/ di/a, 
   Ro/ma/ las/ci/va e/ lou/ca, ao/ re/bra/mar/ da or/gi/a, 
   So/nha/va,/ de/ tri/clí/nio em/ tri/clí/nio/ ro/lan/do. * 
   e'  facil ver que o principio e'  mais ou menos fonetico: contam- 
   se, de modo geral, as silabas que se pronunciam. Mas nao se 
   contam as que vem depois da ultima tonica. A duracao nao e' 
   levada em conta, claro: o /a/ atono final de nua vale o mesmo, 
   metricamente, que uma silaba que tem encontro consonantal ou 
   um ditongo forcado, ou como a sílaba formada por nio +em. Nem 
   vale a pena entrar aqui em maiores analises, mas queria dizer 
   apenas que a propria disposicao em versos cria uma dinamica 
   de pausas que e' estranha ao verso japones, que quebra as 
   sequencias por meio de termos que mudam a entonacao e 
   promovem pausas sintaticas -- as chamadas palavras-de-corte [kireji]. 
   Constatamos assim o obvio: nao ha' nada em comum entre o 
   sistema metrico japones e o portugues. Nao havendo, porque a 
   questao da metrica tem tanta importancia em haikai? Porque o 
   haikai foi trazido para a nossa pratica como forma exotica, mais 
   ou menos como o pantum malaio, que chegou a ser prova de 
   virtuosismo no nosso parnasianismo. 
   Assim sendo, nao creio que devamos qualquer fidelidade a essa 
   convencao totalmente arbitraria de dividir o haikai em 3 versos 
   de 5-7-5 silabas poeticas portuguesas. 
   Muito menos devemos qualquer fidelidade `a forma inventada 
   por Guilherme de Almeida, que introduziu duas rimas no 
   terceto e lhe deu um titulo... 
   O que e'  importante, na apropriacao ocidental da forma 
   japonesa, nao e'  a metrica, que foi simplesmente mal 
   compreendida e mal traduzida. O importante, do meu ponto de 
   vista, e'  a forma interna do discurso, como ja' disse em outros 
   textos aqui postados e que nao acho valer a pena repetir. 
   Ja' quanto `a ideia de que haja uma formula para a organizacao 
   do conteudo do haikai, nos termos da que foi atribuida `a Alice 
   Ruiz na entrevista do Estadao, ha' tambem o que dizer. A ideia 
   de que o haiku apresente uma situacao, depois um evento que 
   interfira nessa situacao primeira e finalmente a resultante entre 
   o choque do estavel e do transitorio e, se entendo bem, 
   resultado de ma' leitura dos tratados dos discipulos de Basho. 
   Numa dada passagem, Toho (se nao me engano) refere-se `a 
   arte de Basho como a arte que procede dos /fundamentos/, 
   distinguindo-a de outro tipo de verso, que paga tributo 
   excessivo ao gosto do tempo, `a moda do momento. Na 
   sequencia, Toho vai tratar das formas de apreender, no verso, 
   o que e'  eterno e o que e'  transitorio. Mas dai'  `a pretensa 
   divisao ternaria do haiku em tese/antitese/sintese, ou em 
   estabilidade/ transitoriedade/ resultado do choque de ambos vai 
   um grande abismo, em que parece ter caido ate'  mesmo 
   Octavio Paz, que parece ter sido quem inaugurou essa forma de 
   compreender o haiku, num ensaio de resto excelente, incluido 
   em Signos em Rotacao. Na verdade, a ordenacao mais comum 
   da maior parte dos haiku nao e'  essa. e, pelo contrario, binaria: 
   lendo em japones percebemos que, na maior parte das vezes, 
   um haiku traz apenas uma palavra de corte e as duas partes 
   resultantes se resolvem sintaticamente em duas sentencas. 
   O que o haiku tem a oferecer para nos, ocidentais que o 
   praticamos, e, penso eu, uma forma de trabalhar com as 
   palavras que e'  muito especifica, que e'  diferente do que 
   chamamos de poesia. O haikai e'  tambem uma pratica coletiva, 
   uma pratica dirigida, que se processa a partir de orientacoes 
   gerais bastante claras e que, por isso, pode ser aprendida. Para 
   muitos, e'  tambem um caminho de vida, um jeito de ser e estar 
   no mundo. 
   Nada ganhamos portanto, se nos esforcarmos para manter uma 
   coisa que e'  banal e nada significa: a forma 5-7-5. Tambem, 
   quando o haikai e'  bem feito, nada perdemos em observa-la, 
   por respeito a uma tradicao que, embora risivel em muitos 
   aspectos, e'  afinal uma tradicao. Mas nao vale a pena, estou 
   convencido disso, ficar preocupado com a forma metrica do 
   haikai. e'  certo que, mesmo em japones, o haiku e'  uma forma 
   breve -- e a brevidade extrema tem importancia para a 
   ordenacao e apresentacao do discurso. e'  tambem certo que os 
   kireji ocorrem normalmente na 5 ou na 12 posicao. Portanto: 
   ha, de fato, uma organizacao do haiku em tres segmentos 
   virtuais de 5-7-5 unidades que talvez valha a pena observar -- 
   a ordenacao em tres segmentos, digo --, porque contribui para 
   a ordenacao e apresentacao do discurso. Quando ao numero de 
   silabas, se tivessemos de adotar alguma convencao, parece-me 
   boa, por exemplo, a que o Edson adota para os haikais 
   submetidos `a sua pagina (Caqui on line): mais ou menos 17 
   silabas. Assim, evita-se um derramamento que seria prejudicial 
   `a concisao do haikai. Mas ainda acho que o numero de silabas 
   nao tem qualquer importancia real. 
   Era isso, meus caros. Aguardo os comentarios e discussoes. 
   * nota: substituí, nesta edição, os versos de Bandeira, que dera 
   como exemplo na primeira postagem, por estes, de Bilac, mais 
   tradicionais, e que por isso oferecem menos dificuldades à escansão. 
Date: Mon, 12 Aug 1996 20:10:38 -0300 
   From: PAULO FRANCHETTI  
   Subject: o carteiro, o poeta e o haikai (texto longo) 
   To: haikai-l@cesar.unicamp.br 
   Ha' poucos dias, Edson postou um texto sobre a metafora. 
   Tinha como subject, eu acho,  O carteiro e o poeta . 
   Ao que me lembre, so' o Feitosa respondeu, num manifesto 
   de liberdade poetica. Muito bem. Como ninguem mais 
   tratou do tema, que e'  espinhoso, achei que devia voltar a 
   ele. Pelo menos para levantar a poeira... 
   -------------------------------------------------------------------- 
          Pois bem, Edson, e'  verdade que naquele filme 
   poesia ficou como sinonimo de metafora. E isso parecia 
   bem, porque a poesia de Neruda e'  mesmo eminentemente 
   metaforica. Basta abrir um livro dele ao acaso para perceber 
   que a sua poesia tem uma base metaforica muito forte. Esta 
   Ode a la cebolla, por exemplo: 
   Cebolla, 
   luminosa redoma, 
   petalo a petalo 
   se formo  tu hermosura, 
   escamas de cristal se acrescentaron 
   y en el secreto de la tierra oscura 
   se redondeo  tu vientre de rocio. 
   Bajo la tierra 
   fue  el milagro 
   y cuando aparecio 
   tu torpe talo verde, 
   y nacieron 
   tus hojas como espadas 
    en el huerto, 
   la tierra acumulo  su poderio 
   mostrando tu desnuda transparencia, 
   y como en Afrodita el mar remoto 
   duplico la magnolia 
   levantado sus senos, 
   la tierra 
   asi , te hizo, 
   cebolla, 
   clara como un planeta 
   y destinada 
   a relucir, 
   constelacion constante, 
   redonda rosa de agua, 
   sobre 
   la mesa 
   de las pobres gentes. 
   (...) 
          Aqui o registro e'  basicamente metaforico. Quero 
   dizer: o poema se organiza a partir das semelhancas entre as 
   coisas: no geral, sao metaforas. Mas tambem temos ai'  uma 
   figura muito proxima da metafora, que e'  a comparacao. 
   Quando o poeta diz que a cebola e'  uma redoma luminosa, 
   temos uma metafora, no sentido proprio. Quando diz que as 
   folhas nasceram como espadas no quintal, uma comparacao. 
   Mas e'  facil ver que a forma da percepcao e'  a mesma: isto 
   e'  igual `aquilo, ou isto e'  como aquilo. Ha' nesse poema 
   algumas metaforas belissimas: redonda rosa de agua, 
   constelacao constante, escamas de cristal, ventre de orvalho. 
   A comparacao com Afrodite e'  tambem excelente e anuncia 
   a dimensao cosmica que a cebola vai adquirir logo depois, 
   para por fim aportar na mesa das pessoas pobres. Lembra, 
   alias, aquele poema de Bandeira sobre a maca num quarto 
   pobre de hotel. 
          Mas as questoes que voce apresentava eram duas: 
   toda poesia e'  metaforica? o haikai nao pode ser 
   metaforico? E, subentendida, havia uma terceira, 
   dependendo das respostas: o haikai e'  poesia? 
          Bom, a primeira e'  a mais facil de responder. E a 
   resposta e'  um redondo nao. Alguma poesia e. Mas este 
   poema, do proprio Neruda, e'  intenso e muito diferente da 
   Ode `a cebola, porque nao se faz sobre metaforas: 
   El Culpable 
   Me declaro culpable de no haber 
   hecho, con estas manos que me dieron, 
   una escoba. 
   Por que'  no hice una escoba? 
   Por que'  me dieron manos? 
   Para que'  me sirvieron 
   si solo vi el rumor de cereal, 
   si solo tuve oidos para el viento 
   y no recogi el hilo 
   de la escoba, 
   verde aun en la tierra, 
   y no puse a secar los talos tiernos 
   y no los pude unir 
   en un haz aureo 
   y no junte'  una cana de madera 
   a la falda amarilla 
   hasta dar una escoba a los caminos? 
   Asi'  fue : 
   no se'  como 
   se me pasO' la vida 
   sin aprender, sin ver, 
   sin recoger y unir 
   los elementos. 
   En esta hora no niego 
   que tuve tiempo, 
   tiempo, 
   pero no tuve manos, 
   y asi, como podia 
   aspirar con razon a la grandeza 
   si nunca fui capaz 
   de hacer 
   una escoba, 
   una sola, 
   una? 
          Aqui, e'  minima a estrutura metaforica. O que 
   temos e, isso sim, a construcao de uma situacao simbolica, 
   muito claramente analisavel e inteligivel. 
          A segunda questao: o haikai e'  metaforico? 
   Tambem aqui a resposta e'  nao, ate' onde posso ver. Na 
   verdade, a tentativa de ler o haikai de modo metaforico foi 
   uma das nossas tentativas de entende-lo, de traze-lo para o 
   nosso universo de leitura. 
   O velho tanque - 
   Uma ra mergulha. 
   Barulho de agua. 
          Ler isto num registro metaforico sO' empobrece o 
   texto. Num registro simbolico ou alegorico, tambem. 
          E porque? Bom, isso e'  sempre o mais dificil... 
   responder porque... 
          Mas como este espaco pretende ser um lugar de 
   debate, de livre curso das intuicoes, e nao um estrado 
   academico, vamos la . Acho que o haikai nao e'  metaforico 
   porque e'  muito objetivo, muito preso `a sensacao e `a 
   notacao direta de uma percepcao. Entretanto, ha' uma 
   componente metaforica na concepcao do haikai. Quando 
   dizemos: vento de outono, ou: libelula, ou: flores caidas - 
   nao temos um traco metaforico (que na verdade deve ser 
   evitado, mas que permanece como uma forma de acorde, de 
   harmonico do que o haikai diz)? Quero dizer, quando um 
   poeta diz: 
   em solidao, 
   como a minha comida - 
   e sopra o vento de outono 
          o vento de outono nao e'  uma especie de metafora 
   da velhice, ou um simbolo dela? E quando outro poeta 
   escreve: 
   a lua cheia 
   gentilmente ilumina 
   o ladrao de flores 
          essa lua cheia nao e'  uma especie de simbolo da 
   justica divina, ou da indiferenca da natureza face aos valores 
   humanos? Finalmente, a lua nao e'  ai'  personificada, o que 
   tambem e'  uma manifestacao metaforica? 
          Na arte sutil do haikai, entretanto, tanto os 
   simbolos quanto as metaforas ficam em surdina. O haikai 
   nao e'  bom (dizem-nos os comentarios japoneses, quando 
   bem lidos) porque tem um conteudo simbolico bem 
   realizado. Pelo contrario. Um haikai e'  bom apesar do 
   conteudo simbolico e metaforico. e'  bom quando esse 
   conteudo fica em surdina e pode ser absorvido inteiramente 
   por uma leitura objetiva. Por isso, justamente o poeta que 
   mais nos parece familiar, K. Issa, `as vezes parece 
   sentimental para alguns comentadores: porque em seus 
   poemas, como o ultimo que transcrevi, `as vezes e'  dificil 
   manter a pura leitura objetiva. Ja' no caso daquele haikai 
   anterior, e'  possivel: o sujeito esta' solitario e esta' ventando 
   frio, o que aumenta a sensacao de solidao. Os harmonicos 
    velhice ,  proximidade da morte ,  morte das pessoas da sua 
   idade  nao sao necessarios para o entendimento literal. Sao 
   acrescimos... 
         Finalmente, o haikai e'  poesia? Bom, o nosso, o 
   ocidental, e. O outro, quando lido por nos, tambem e. 
   Quero dizer: nao temos outra forma de ler, senao as que a 
   nossa tradicao nos deu e que, mesmo modificada por nos, 
   continua orientando a nossa visao. Para os japoneses do 
   seculo XVII era poesia? Esta' ai'  uma pergunta que nao faz 
   muito sentido, se nao for bem explicada: o nosso conceito de 
   poesia, hoje, foi feito incluindo tambem o proprio haikai... 
   E inclui conceitos que, certamente, nunca fizeram parte da 
   cultura japonesa... Portanto, e'  muito dificil dizer... 
          Bom, chega de falar... Quem continua? 
Date: Mon, 1 Jul 1996 23:12:04 -0300 
   Sender: haikai-l@cesar.unicamp.br 
   From: PAULO FRANCHETTI 
   Subject: meu palpite sobre a questao do zen e do haikai 
   Prezados colegas da haikai-l: 
          ha' algumas semanas, o Edson postou aqui um 
   comentario sobre o zen no haikai, ou melhor, sobre o 
   zen na critica e no entendimento ocidentais do haikai. 
          Depois, o Gabriel postou um texto que parecia 
   uma contestacao, meio obliqua, ao Edson. E o assunto 
   morreu. Por fora da lista, sei que ha' pelo menos mais 
   uma pessoa que tem algo a dizer sobre o assunto, mas 
   que nao tem achado tempo de o fazer. 
          Assim, resolvi por a minha opiniao para girar, 
   enquanto outros nao se pronunciam. 
          Pois bem. Acho que eu concordo e nao 
   concordo com o Edson. Concordo com ele e com o 
   autor que citou no que diz respeito ao exagero zenista 
   que assola o haikai fora do Japao. Tudo e'  zen, e fala-se 
   indistintamente de haikai e de zen, ou de ikebana e zen, 
   porque o que importa e'  esse indefinivel e inatingivel 
   zen. Vi uma vez, em Sao Paulo, um conferencista que, 
   depois de dizer que o zen e'  a base indefinivel, passou 
   a defini-lo nos termos mais bizarros: um mosquito e'  o 
   zen, um beijo e'  o zen, o nada e'  o zen, isto aqui e'  o 
   zen, a chuva, o sol, a poesia, o sexo, o amor, etc. Sei que 
   alguns estao pensando que o homem era um iluminado 
   e eu um boboca que nao pude entender que o meu 
   proprio umbigo tambem era o zen. Mas a minha reacao 
   foi de pasmo e depois um incontrolavel ataque de riso 
   que fez com que tivesse de sair, chorando e com dor de 
   estomago, para gargalhar do lado de fora. E onde 
   pensam voces que se deu tal conferencia? Num 
   Encontro de Haikai, no Centro Cultural Vergueiro, em 
   Sao Paulo. Era tudo por conta do haikai... 
          Quero dizer: ja' ouvi tanta bobagem sobre o zen 
   quanto qualquer outro, e tambem me irrita essa coisa de 
   meter a palavra em tudo. Nesse sentido, zen e, para os 
   ouvidos, um termo pior do que  dialetica , quero dizer: 
   usado ainda mais confusa, vaga e indiscriminadamente. 
   E obviamente tenho de concordar que e'  possivel fazer 
   bons haikais sem nunca ter queimado as pestanas sobre 
   um texto de divulgacao do que seja o  zen . 
          Tambem, e'  claro, fiquei ja' irritado com a 
   identificacao simplista de  zen  com imediatismo 
   espontaneista, ou com o irracionalismo. 
          Nesse aspecto, achei perfeito quando um 
   monge da Terra Pura me disse, com um sorriso bastante 
   ironico, que os homens do zen dizem que o melhor e' 
   o silencio e que o zen nao se pode definir, ao mesmo 
   tempo em que escrevem rios de livros para dizer o que 
   e'  e como e'  o zen. 
          Por outro lado, e'  preciso ver tambem que a 
   palavra  zen  significa, nas varias linguas do Ocidente, 
   alguma coisa muito diferente, muito especial. 
          Para nos, essa palavra tem uma historia cheia 
   de beleza. De minha parte, quando penso no zen, no 
   conceito de zen ocidental, penso com respeito, e com 
   emocao. 
          Pouco me importa, nesse nivel, o que seja o zen 
   no Oriente. Isto e, aquele particular ramo do Budismo, 
   com tais e tais sutras como base e tais e tais patriarcas. 
   O nosso zen e'  outra coisa. e'  aquilo que D. T. Suzuki 
   nos ensinou? E, sem duvida: seu Zen and Japanese 
   Culture sempre sera' um livro admiravel. E'  tambem 
   aquilo que nos ensinaram todos aqueles chatos 
   religiosos, como o intragavel Taisen Deshimaru, que fez 
   tantos proselitos? E', sem duvida. Isso nao se discute. 
   Entretanto, o que me comove de verdade nao e' 
   nenhum desses textos, nenhum desses missionarios que 
   vieram do Oriente para nos fazer ver o  verdadeiro 
   zen. O que me comove e'  o zen que foi refabricado no 
   Ocidente, a partir das nossas necessidades e do nosso 
   esforco de conquistar uma alteridade que nos conviesse. 
   Estou falando, agora, de gente como Allan Watts, R. H. 
   Blyth, E. Herrigel e tantos outros. O zen que conta para 
   nos e'  o de Herrigel. Seu relato do aprendizado da arte 
   do arco e flecha e'  uma maravilha. E'  o de Watts, esse 
   genio brilhante que era tambem um tanto charlatao e 
   um escritor de primeira linha. Seus textos sobre o zen, 
   bem como a sua biografia, ajudaram a moldar aquilo 
   que depois chamamos de orientalizacao da 
   contracultura. E e'  o de Blyth, que nos abriu os olhos 
   para uma coisa que ele chamou de zen, mas que poderia 
   ter chamado de qualquer outra coisa, pois a reconhecia 
   tanto em Wordsworth quanto em Basho; em Issa e em 
   Shakespeare. Sua interpretacao de haikais e'  `as vezes 
   desfocada? E , ao que dizem. Mas isso nao tem 
   importancia real: em regra, seu comentario ilumina o 
   verso que comenta e ilumina muito mais que ele: mostra 
   a atitude que esta' na sua origem, defende um jeito de 
   estar no mundo e de fazer e ler a poesia em geral. 
          Blyth, Watts e Herrigel chamaram de  zen 
   aquilo que encontraram ou julgaram encontrar no 
   Oriente e que quiseram trazer para o nosso mundo. 
   Eram educadores, reformadores. Nesse caso, a verdade 
   do que foi o seu  zen  e'  garantida pela sua obra, pelo 
   destino que tiveram os seus livros. Depois deles, o  zen 
   passou a fazer parte da nossa cultura, e'  o nosso  zen . 
          Aos eruditos academicos, esses homens causam 
   um esgar de desprezo. Mas quem aguenta os scholars 
   budistas? Quem quiser tentar, assine a lista Buddha-L 
   ou a Buddhism: ambas sao de uma chatice, um 
   pedantismo e um  profissionalismo  de matar. Fala-se 
   ali de Budismo como se se falasse do calculo de 
   resistencia de materiais. Isto e, academicamente, 
   embalsamadamente. Para eles, e'  vital saber qual era o 
   termo exato que compareceu na terceira traducao para 
   o chines de um dado texto sanscrito. E isso e'  realmente 
   louvavel, enquanto metodo e ciencia academica. Mas o 
   que aqueles senhores tem a dizer sobre o Budismo ou 
   sobre o  zen  e  muito pouco e quase sempre de uma 
   perspectiva que faz com que o seu assunto nao interesse 
   a quase mais ninguem... O  zen  que se mexe e que leva 
   as pessoas a mudarem formas de ver ou de se 
   comportar, por menores que possam ser essas 
   mudancas, e'  o  zen  de Watts, de Blyth e de Herrigel. 
   E'  o que vem revestido daquilo que talvez nem seja 
   muito  zen : a paixao. 
          Desse ponto de vista, portanto, discordo do 
   tom que vem no texto transcrito pelo Edson. O haikai, 
   para muitos, e'  um exercicio de  zen . Desse  zen 
   ocidental, meio tingido de beatnik, meio lavado de 
   exotismo, certamente contestador, libertador, cheirando 
   a anos 50. Que seja! Desde que se faca boa poesia. 
          Por outro lado, e'  verdade que a maior parte 
   dos japoneses que pratica o haiku esta' pouco 
   preocupada com o zen. No Brasil, entao, talvez nao haja 
   um mais que um ou dois isseis ou nisseis que facam haiku e se confessem 
   adeptos do zen. 
          Compreende-se, entao, o espanto com que 
   recebem a nossa pergunta fatal sobre o zen... 
   Compreende-se mesmo que possam revoltar-se com a 
   insistencia na ignorancia. 
          Mas o que normalmente um ocidental quer 
   dizer, quando fala em  zen  e nao e  apenas mais uma 
   vitima das modas culturais, e'  muito menos e muito 
   mais do que um japones ou chines usualmente entende 
   pela palavra. E'  muito menos porque e'  uma palavra 
   vaga, sem precisao historica nem filosofica nem 
   filologica. E e'  muito mais porque por ela se designa 
   quase sempre uma grande parte do que aprendemos a 
   reconhecer como o que e'  especifico, do ponto de vista 
   cultural, do Extremo-Oriente. Uma comparacao 
   grosseira: um  viajante de outro planeta (a comparacao 
   tem de ser essa, porque desde o seculo passado o 
   Ocidente e' onipresente em nosso mundo) poderia 
   chegar a identificar como a base da  ocidentalidade  o 
   pietismo cristao. Convencido disso, poderia, por 
   exemplo, dizer que a poesia de um sujeito 
   confessadamente ateu era crista, porque nela 
   reconheceria tracos culturais que provem do universo 
   que identificou como cristao. Estaria errado? Nao acho. 
   Eu mesmo, ora meio ateu, ora meio vagamente budista, 
   ora coisa nenhuma claramente identificavel, sei que 
   nunca deixarei de ser cultural e psicologicamente 
   cristao... 
          Este meu  posting  chega aqui, de subito e sem 
   conclusao, ao seu final. Desculpem la' se falei de 
   um modo quase compulsivo. So' queria, na verdade, 
   complicar um pouco a discussao... 
Date: (maio de 1997) 
   Sender: haikai-l@cesar.unicamp.br 
   From: Paulo Franchetti - IEL/Unicamp  
   Subject: e por falar em teoria... 
Primeiro, o que é o haikai? Sem torneios acadêmicos, podemos dizer: quanto 
à forma, é  um poema de três versos curtos; quanto ao conteudo, é um poema 
que expressa uma percepção da natureza. 
Se quisermos aprofundar as questões: como são os três versos do haikai? 
São, em princípio, assim: o primeiro e o terceiro têm 5 sílabas; o do meio 
tem 7 sílabas. Como se organizam as frases nesses três versos? Aqui só há, 
ditada pela experiência, uma regra: não devemos dispor uma frase em cada 
verso. Por exemplo: 
O sol poente. 
O campo seco. 
O frio da tarde. 
Isso é ruim. Há muitos elementos um ao lado do outro, e não percebemos uma 
ligação entre as partes. Seria melhor assim: 
O sol poente. 
O frio da tarde atravessa 
O campo seco. 
Ou então: 
Ao pôr-do-sol, 
O frio da tarde atravessa 
O campo seco. 
Embora já seja um texto um pouco mais interessante, há ainda dois 
problemas: muitos elementos e ligação artificial entre eles. Mas não vamos 
falar disso agora. 
De tudo isso se pode concluir que, quanto à definição, um haikai é um poema 
de três versos, que trata da natureza e que é composto de uma ou duas 
frases; raramente de mais do que duas. 
A segunda questão é a mais complicada: quais são as qualidades do haikai? O 
que é um bom haikai? É uma questao espinhosa... 
Tinha dito que o texto do exemplo anterior não era bom. E eis os motivos: a 
percepcao visual nao é boa. O poema não nos faz visualizar um cena; nem 
tampouco nos transmite uma sensação imediata;  quanto ao frio, não parece 
que exista aqui a expressão de uma sensação concreta - o frio continua 
sendo apenas uma palavra. Quero dizer: não vejo nesses versos uma 
transcrição em palavras de algo que se percebe de uma só vez, como se fosse 
uma faísca que saltasse entre dois pólos. Talvez então a idéia em si mesma, 
quero dizer, a formulação da cena em palavras, esteja errada, ou nao seja 
capaz, no meu estado atual, de produzir um bom poema. Tudo isto é exemplo. 
Entao suponhamos que eu tivesse visto essa cena de um campo seco, num final 
de tarde em que o tempo estava virando e ficando mais frio. Vi o campo, vi 
o pôr-do-sol, senti o frio. Daí que tivesse escrito assim: o frio da tarde 
atravessa o campo. Mas eu é que olhava o campo, meu olhar é que o 
atravessava, porque não tinha vegetação alta, etc. A sensação do frio foi 
talvez aumentada pela visão do pôr-do-sol e do descampado. Mas ela não 
coube no meu poema, não ficou bem como conjunto. Talvez porque eu a tivesse 
tentado reproduzir animando o frio, fazendo o frio passear pelo campo. 
Aquele  "atravessa" parece-me agora ruim, afetado, um mero jogo de palavras 
para juntar o frio e o campo seco, fazendo um desempenhar uma ação sobre o 
outro. 
Se eu tivesse ido por esse caminho, o que me restaria era aprender da 
experiência e jogar o poema fora, porque em haikai ou a gente sente que 
conseguiu expressar uma sensação ou uma percepção, ou não temos nada ali, 
naquele poema tao curtinho. 
Mas se eu tivesse ido por outro caminho, e tivesse me concentrado numa 
sensação, talvez teria chegado mais perto do que é um bom haikai. Neste 
exemplo, não é o frio o mais importante, mas a cena toda visual: 
Fim de tarde: 
o sol poente atravessa 
o campo seco. 
O verbo atravessar agora representa não um esforço de juntar coisas, mas 
uma ação real: a luz do sol poente realmente atravessa o campo seco de uma 
ponta a outra, porque não há mato alto, nem árvores. A primeira frase 
funciona agora como um pano de fundo: anuncia, situa, mas é na verdade a 
mesma coisa que o sol poente. Temos entao só dois elementos: o campo seco e 
a luz do sol poente. 
E o poema é agora melhor. Ou não? 
As reflexões a seguir foram colocadas no ar, eu creio, em 96 ou 97. Não tendo uma cópia da mensagem, apresento aqui apenas o texto original, tal como estava escrito para ser disbribuído: 
     Já que a lista está no começo, e poucas pessoas estão pondo textos para circular, aqui vao 
algumas reflexões soltas sobre o que seja o haikai. Quem sabe animem a conversa. 
     Acho que o aspecto mais importante da poesia de haikai não é a sua forma. Apesar das 
várias definições que circulam por aí, acho que podemos ficar com uma descrição vaga, se quisermos 
recobrir tudo o que hoje se publica no Brasil sob essa denominação. De modo geral, portanto, ao nível 
formal, creio que podemos definir o haikai como um poeminha em três versos, sem rima, dos quais 
o segundo é ligeiramente maior do que os outros, somando todos os três mais ou menos 17 sílabas. 
     Mas todos sabemos que só fazendo um poema assim não temos um haikai. Quero dizer: não 
temos um poema que a maior parte das pessoas reconheceria como haikai. Portanto, acho que não 
é a forma que define essa poesia, mas a maneira de organizar o texto,  a orientação do seu discurso. 
     Normalmente, nos haikais encontramos uma forma de composição que podemos definir 
como justaposição, isto é, a colocação, lado a lado, de estruturas verbais sem nexos sintáticos 
explícitos entre si, de modo que o leitor tenha de descobrir a relação entre elas. Mas a especificidade 
do haikai não está apenas na justaposição, pura e simples. Essa é a forma, por assim dizer, externa da 
articulação do haikai. O que o define, pelo menos de meu ponto de vista, é a atitude que embasa a 
escolha e a apresentação dos termos justapostos. Essa atitude, eu acho,  consiste na busca de uma 
percepção muito ampla ou intensa por meio de uma sensação. 
      Penso que nunca é demais reafirmar o caráter central que a sensação tem no haikai, 
e se não atentarmos para esse ponto perderemos de vista boa parte da especificidade desse tipo de 
poesia. Parece muito claro que é do contraste entre a fugacidade da sensação e o seu ecoar nas 
diversas cordas da sensibilidade e da memória que nasce boa parte do que é mais característico na 
poesia de haikai. Na minha opinião, como leitor de haikai há vários anos, os melhores poemas desse 
gênero são aqueles em que uma sensação muito concreta -- visual, tátil ou auditiva -- funciona como 
disparadora de associações, sentimentos e dados da memória. Freqüentemente lemos duras 
condenações ao sentimentalismo em haikai. É verdade que a pura expressão do sentimento o mais das 
vezes produz, em haikai, um efeito bastante lamentável. Mas quando o sentimento provém de uma 
sensação e funciona no sentido de promover uma união entre o sujeito e o objeto, temos sempre bom 
haikai, como neste exemplo de Issa: 
      Meu pai também 
      Viu assim estas montanhas -- 
      Retiro de inverno. 
      Ou neste haikai de Masuda Goga, do Grêmio de Haicai Ipê: 
      Ah! Mosca de inverno 
      -- questão de dia ou de hora -- 
      seu último instante? 
      São, porém, de fato muito raros os casos em que uma tal exposição de sentimento 
produz bom efeito em haikai. No mais das vezes, o que acontece é que se desfaz o delicado equilíbrio 
entre a percepção individual e a dimensão mais ampla em que essa percepção tem de encontrar um 
lugar para funcionar como fonte de prazer poético. 
      Para conseguir esse objetivo, evidencia-se toda a importância da palavra de estação 
(kigo) no haikai. É do kigo que decorre quase todo o haikai. Em muitos casos, o kigo representa o 
aqui e o agora que originou uma dada emoção; em outros tantos, permite criar, muito 
economicamente, o mood característico que envolve uma dada percepção da realidade. 
Na concretude do poema, a técnica de manipulação do kigo é vital para gerar a atitude de espírito 
que caracteriza o haikai: ele permite o reconhecimento, através de uma sensação objetiva, de um 
conjunto mais amplo em que essa sensação se encaixa e atua significativamente. E é esse o sabor 
mais característico da poesia de haikai. 
      Mas chega de teoria: acho que já falei muito por hoje. 
      Desculpem lá, mas já que ninguém falava nada...
Obrigado por resgatar esse material tão precioso! Sempre aprendo muito lendo seus textos!
ResponderExcluirObrigado! Paulo
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