domingo, 13 de abril de 2025

Antologia de haicais clássicos

 Passei a tarde lendo, com alegria e prazer, o livro “Antologia de haicais clássicos”, de Edson Iura.

Conheci Edson Iura em algum momento de 1990 ou 1991. Foi em 90 que participei do V Encontro de Haicai, e nele apresentei o livro “Haikai – antologia e história”, recém-lançado. Na sequência, fui convidado a participar das reuniões do Grêmio Haicai Ipê.
Alguns anos depois, Edson e eu decidimos criar um fórum de discussão sobre haicai em português. A Unicamp cedeu espaço no seu computador central e lá abrimos a Haikai-l, em 28 de março de 1996. Nesse mesmo ano, Edson criou o site Kakinet, o primeiro em língua portuguesa exclusivamente centrado no haicai – e que hoje é uma referência imprescindível a quem quer saber mais sobre essa poesia.
Acompanhei depois o trabalho e a dedicação incansável do autor, que recentemente frutificou em livros. Primeiro, com o lançamento, em 2021, de “Cesto de caquis”, notável trabalho que ganhou o prêmio da Biblioteca Nacional em 2022. Nesse mesmo ano, com “O Mendigo Sonha” – uma coletânea de seus haicais, escritos ao longo de décadas. Agora, por fim, em 2025, com a reunião em volume de algumas das muitas traduções de haicais clássicos que foi publicando, de 1999 a 2003, na coluna “Um mestre japonês” do “Jornal Nippo-Brasil”.
O que mais apreciei na Antologia foi a escolha do tom e da forma. Minimalismo é a palavra-chave. Sua tradução poderia ser modéstia, adequação de registro ao original, recusa ao brilho fácil, ausência de ego, delicadeza.
Edson não se deixou engessar pela forma. Em vez de buscar manter alguma semelhança com a métrica do haiku, optou por buscar a naturalidade da expressão. Isso, porém, não significa dar forma sintática completa, analítica, à frase. Edson consegue o mais difícil e, do meu ponto de vista, o essencial na tradução do haiku para o português: manter ao mesmo tempo a naturalidade, o coloquialismo e o aspecto lacunar, que deriva principalmente da composição por justaposição. Além disso, é sensível uma preocupação extra; a de preservar, quando possível, a ordem de apresentação dos elementos que constituem o haicai.
O autor optou por não inserir notas, não situar os haicais, nem suprir informações contextuais ou literárias que poderiam ajudar no entendimento. E creio que fez bem, porque a forma livre que adotou lhe permite a flexibilidade necessária para que o próprio poema, graças a uma sábia escolha de palavras e forma de apresentação, se sustente. De mais a mais, a maior parte dos haicais que ele escolheu são clássicos, muito comentados em outras obras e em artigos da internet.
Com este livro, Edson completa o seu triátlon: um livro de estudos sobre o haicai, um livro com os haicais de lavra própria e um livro de traduções de haicais dos grandes mestres – estudo, tradução, composição. E o completa em grande estilo! Estou seguro de que a publicação desta antologia constitui um momento especial na história do haicai no Brasil.

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