domingo, 6 de abril de 2025

Haicai e zen

Li há pouco, na página do Haiku en español, um texto de Vicente Haya, intitulado “O haicai não é poesia zen”. Tendo a concordar com ele, quando diz que a atitude de buscar iluminação ou o incompreensível não é a mesma atitude, o mesmo modo de estar no mundo, do poeta de haicai, que busca sempre em primeiro lugar a concretude, o sensível – e a emoção ligada à percepção sensível. Mas discordo também da radicalidade dele, ao entender o zen como algo monolítico, que busca o satori como iluminação súbita. Na verdade, não entendo o zen. Apenas leio e penso...
Em certo ponto, ele refere um haicai de Bashô, como prova de que haicai não é zen. A passagem é esta:

Sin embargo, el propio Bashō -el haijin que se toma como prototipo de "poeta Zen"- en uno de sus haikus concede la beatitud precisamente al ser humano que "no comprende" (satoranu) ante una manifestación de la Naturaleza:

稲妻にさとらぬ人の貴さよ

inazuma ni satoranu hito no tōtosa yo

¡Qué santidad
la del hombre que ante un relámpago
no despierta a la realidad!

Por diversão, submeti o haicai ao ChatGPT e conversei um pouco com a máquina sobre ele. Vou transcrever a conversa toda. Vale a pena ver como a máquina interpreta o haicai, dentro do universo zen. Mais ou menos como se ele fosse uma declaração de adesão ao Soto Zen. Vale também a pena ver as traduções modernas que ela propõe. Uma delas poderia integrar a tradição leminskiana, eu creio.
Eis aqui:

-x-x-x-x-x

Claro! A frase japonesa 稲妻にさとらぬ人の貴さよ pode ser traduzida como:

"Quão nobre é a pessoa que não busca iluminação no relâmpago."

Ou, de forma um pouco mais interpretativa:

"A nobreza daquele que não se deixa iluminar por um relâmpago."

Essa é uma expressão poética e provavelmente faz parte de um haicai ou waka. Ela sugere que há valor ou dignidade em quem não busca uma compreensão súbita e chamativa (como o clarão de um relâmpago), mas talvez trilhe um caminho mais silencioso ou contemplativo.

Se quiser, posso ajudar a analisar o contexto poético ou filosófico também.

Claro! Vamos fazer uma análise mais profunda da frase 稲妻にさとらぬ人の貴さよ:

Tradução literal:
• 稲妻 (いなずま / inazuma): relâmpago
• に: partícula indicando direção ou causa
• さとらぬ (悟らぬ): forma negativa de 悟る (satoru), que significa "atingir a iluminação", "compreender profundamente", "despertar espiritual"
• 人 (ひと / hito): pessoa
• の: partícula possessiva ou de qualificação
• 貴さ (とうとさ / toutosa): nobreza, preciosidade, dignidade
• よ: partícula exclamativa, que adiciona ênfase emocional

Tradução poética sugerida:
“Quão nobre é a pessoa que não se ilumina com o relâmpago.”

Análise filosófico-poética:
1. Simbolismo do relâmpago (稲妻):
O relâmpago costuma simbolizar revelação súbita, uma iluminação repentina — como o satori no Zen, uma forma de despertar espiritual que pode vir de uma percepção abrupta. Algo momentâneo, poderoso, mas também fugaz.
2. A recusa da iluminação súbita:
A pessoa descrita não se ilumina pelo relâmpago — ou seja, não busca (ou não se deixa levar por) uma compreensão imediata, espetacular, repentina. Isso pode indicar alguém que prefere o caminho da paciência, da introspecção, do crescimento lento.
3. A nobreza dessa escolha (貴さ):
A frase destaca a "nobreza" ou "valor" dessa pessoa. Em vez de criticar, ela exalta aquele que não busca as respostas fáceis ou as revelações rápidas. O poeta parece valorizar quem não se apressa para entender o mundo em um clarão, mas que talvez escolha o caminho gradual, silencioso e constante do autoconhecimento.

Possível interpretação Zen:
Em algumas escolas do Zen, especialmente o Rinzai, o satori súbito é valorizado. Mas em outras tradições (como Soto Zen), a prática contínua é vista como mais importante do que qualquer momento de iluminação repentina. Essa frase parece dialogar com essa segunda abordagem: a sabedoria silenciosa, humilde, que floresce sem espetáculo.

Se você quiser, posso criar uma versão poética em português inspirada nessa ideia.

Com prazer! Aqui vai uma versão poética em português, inspirada no espírito e na cadência do original:

Quanta nobreza há
em quem não busca o clarão
para se entender.

Ou, numa versão mais livre e contemplativa:

Nobre é aquele
que não se apressa a despertar
com o brilho de um relâmpago.

Beleza! Aqui vão algumas versões mais modernas, mantendo a ideia original mas com um toque contemporâneo e direto:

1.Tem algo de bonito
em quem não precisa de um choque
pra se encontrar.

2.Nem todo mundo vê a luz no raio —
e tudo bem.
Tem força nisso também.

3.Admiro quem não corre
atrás de epifanias.
Só vive. E entende.

Curte esse estilo ou quer algo ainda mais urbano ou despojado? Posso ajustar fácil.

Fechou! Aqui vão algumas versões com uma pegada mais urbana, meio spoken word, com aquele clima de rua, cotidiano e introspecção sutil:

---

1.
Respeito quem não brilha no raio.
Que aprende no escuro, no tempo, no trampo.

---

2.
Nem todo mundo precisa de luz na cara.
Tem gente que acorda devagar,
no silêncio da quebrada.

---

3.
Enquanto uns esperam trovão,
outros crescem quieto,
tipo semente no asfalto.

---

4.
Tem quem não se liga no flash.
Prefere a brisa da noite,
descobrindo as coisas no passo.

-x-x-x-x-x-x

A conversa poderia continuar, pois a máquina pergunta se quer mais isto ou aquilo, neste ou naquele estilo. Mas já é suficiente...

Nenhum comentário:

Postar um comentário